quinta-feira, 17 de abril de 2008

FESTIVAL "LISBOA, PORTO DE ABRIGO" | TEATRO DA TRINDADE | MAIO 2008




CALENDÁRIO
SALA PRINCIPAL

YAMI Aloelela [World Music - Angola/Portugal] 1 Maio // 5ª 21h30

RAQUEL TAVARES BAIRRO [Fado] 7 Maio // 4ª 21h30

ANTÓNIO ZAMBUJO OUTRO SENTIDO [Fado] 14 Maio // 4ª 21h30

TITINA CRUEL DESTINO [World Music / Cabo-Verde] 21 Maio // 4ª 21h30

DONNA MARIA Musica para ser humano [World Pop] 28 Maio // 4ª 21h30






YAMI “ALOELELA”
Concerto

SALA PRINCIPAL
1 Maio // 5ª 21h30

Eles estão a rir” é o significado do tema que dá o nome ao primeiro disco de YAMI. E que no fundo é o seu projecto de vida como músico, intérprete e compositor. Contando e sonhando as boas histórias de um país bom, sem esquecer todas as suas realidades presentes, como é óbvio, mas acima de tudo aquelas que retratam um passado que ainda voltará a ser futuro.




RAQUEL TAVARES “BAIRRO” (Espectáculo de Apresentação do Novo Disco)
Concerto
SALA PRINCIPAL
07 Maio 4ª 21h30

Se fado quer dizer destino, então que se fale de Raquel Tavares.
Sente-se na voz, na atitude, na expressão e, acima de tudo, na coragem que tem em assumir-se como “uma Fadista”. Tudo isto não pode ser por acaso, nem pelo facto de se falar de uma artista com um enorme talento para representar. Nenhuma grande actriz poderia assumir tão bem este papel…




ANTÓNIO ZAMBUJO “OUTRO SENTIDO”
Concerto
SALA PRINCIPAL
14 Maio 4ª 21h30

António Zambujo nasceu em Setembro de 1975, em Beja. Cresceu a ouvir os cantares alentejanos, cantares esses que mais tarde viriam a ter influência na sua formação musical.
Actualmente, António Zambujo canta na casa de fado Sr. Vinho. Além dos seus concertos em Portugal, tem-se apresentado em salas no estrangeiro como em Toronto, Paris, Santander, Sarajevo, Zagreb e Londres (seleccionado pela Fundação Calouste Gulbenkian para a abertura do Festival Atlantic Waves 2007).
António Zambujo, dono de uma voz pouco comum nos meios fadistas e de uma extrema sensibilidade na sua interpretação é, sem dúvida, uma sólida referência a ter em conta quando se fala do fado masculino. “Se João Gilberto cantasse fado, seria mais ou menos assim.” João Miguel Tavares in TIME OUT (Novembro de 2007)




TITINA “CRUEL DESTINO”
Concerto
SALA PRINCIPAL
21 Maio // 4ª 21h30

Albertina Alice Rodrigues “TITINA” é uma das vozes mais autênticas e representativas, na tradição dos maiores interpretes deste género musical.
Nascida na capital cultural do Mindelo, na ilha de São Vicente, começou a cantar ao colo do grande mestre da música cabo-verdiana, “B. Léza”, quando tinha apenas 6 anos idade. Até aos 15 anos actuou em público, em espectáculos ao vivo e nas rádios de Cabo Verde e editou o seu primeiro Single.
Hoje, senhora de uma voz madura e expressiva, Titina vive em Lisboa, onde explora inesperadas nuances da música que a viu nascer e crescer. A sua voz é uma das mais representativas da chamada “saudade Cabo-verdiana”, talhada para transmitir na perfeição a sensibilidade romântica dos “cantores da lua” do Mindelo.




DONNA MARIA “MUSICA PARA SER HUMANO”
Concerto
SALA PRINCIPAL
28 Maio 4ª 21h30

Depois do sucesso do seu álbum estreia “Tudo é para Sempre “ , os Donna Maria regressam com um novo trabalho de originais. Gravado e misturado no Estúdio Sonic State entre Maio e Julho deste ano e masterizado pelo engenheiro de som António Pinheiro da Silva e com produção de Miguel A. Majer e Ricardo Santos, o novo trabalho dos DONNA MARIA - “ Música Para Ser Humano” - conta com as participações de vários artistas nacionais, em destaque : Rui Veloso em “Amar Como te Amei” (autor da música que abre o disco); Luis Represas em dueto com Marisa Pinto em “Nós Nunca Somos Iguais”, tema que conta também com a participação de Rão Kyao na Flauta; Raquel Tavares participa em “Anti-Repressivos “ e finalmente Julio Pereira em “Zé Lisboa“.O que não poderia faltar neste trabalho são as grandes versões, a exemplo do que aconteceu na estreia discográfica: “Bem-vindo ao Passado“ dos GNR e “Pomba Branca “ de Max são as contempladas.Os Donna Maria são: Marisa Pinto (Voz); Miguel Angelo Majer (Samples, Bateria e Voz) e Ricardo Santos (Piano acústico, Sintetizadores e Voz).




Bilhetes á venda na Ticketline, em todos os seus postos associados e no próprio trindade.

GHALIA BENALI "ROMÉO & LEILA"

http://www.ghalia.be/

Leila é uma mulher num mundo que escolheu nunca se abrir aos outros… Ela descobre o Amor e decide transpor todas essas barreiras para se libertar. É uma luta com ela própria e contra todos os seus demónios. Graças a isso, a história nunca terá o trágico desfecho de “Romeu e Julieta” ou do seu equivalente oriental “Kaïs & Leila”.

O espectáculo mostra o momento chave da história, quando Leila descobre o túmulo do seu amado. Viajando desde há 7 luas, em luto, ela chega ao seu destino, completamente transformada e liberta dos seus demónios e sofrimentos.
Sobre o túmulo do seu amado, ela presta provas do seu amor: a viagem abriu-lhe os olhos e o coração para ele, e mostrou-lhe a verdadeira natureza do seu amado; amá-lo tal como ele é, aceitar a sua diferença e respeitar a sua liberdade…

Neste espectáculo, a música árabe encontra-se com a música tradicional do Ocidente e com o Jazz.

“A escolha do árabe literário dá-me uma sensação de mistério e de magia, o peso das palavras e a sua qualidade musical são comparáveis a fórmulas poderosas de alquimia… O efeito é imediato, a emoção que eu tento transmitir é libertada, e o espectador quase nunca precisa de ‘tradução’ para sentir aquilo que eu exprimo.”

Não é um musical nem uma história cantada, mas uma sucessão de quadros, canções e danças, que vão aproximar o espectador do estado de alma de Leila, das suas dores, da sua alegria, do seu riso, da sua serenidade, da sua sensualidade…

Ghalia Benali canta e dança, rodeada de músicos de diferentes horizontes musicais:

Moufadhel Adhoum: Alaúde Árabe
Anja Naucler: Violoncelo
Vincent Noiret: Contrabaixo
Azzeddine Jazouly: Percussões árabes, Cajon

Os cenários foram idealizados por Ghalia Benali

“Roméo & Leila” é uma reflexão sobre os problemas da cidadania através da interculturalidade e da dinâmica das identidades.

Como o título indica, ” Roméo & Leila” é o encontro entre dois seres, hoje, vindos de culturas diferentes, religiões diferentes e países diferentes.

Mas em vez de se deixarem morrer por amor e desespero, como os seus antecessores, eles decidem lutar, para transpor essas diferenças… e triunfar!

“É preferível viver do que morrer pelas nossas ideias.”

O espectáculo é um excerto de um conto de fantasia, escrito e ilustrado por Ghalia Benali.

domingo, 23 de março de 2008

ARGENTINA SANTOS "UM FADO DE TODOS OS TEMPOS"


MARIA ARGENTINA PINTO dos SANTOS, que desde 1950 se mantém à frente do seu restaurante típico “Parreirinha de Alfama”, nasceu em Lisboa, na Mouraria.
Ao contrário de outras conhecidas cantadeiras que, muito jovens, já interpretavam o fado em público, Argentina Santos só iniciou a sua carreira artística depois da abertura daquele restaurante, para o qual foi trabalhar, como cozinheira, com apenas 24 anos. Quando deixava de cozinhar, Argentina Santos circulava pelas mesas, sempre assediada para cantar um fado. A sua resposta tornou-se uma lenda “Eu devo é cozinhar para os meus clientes”.
Na “Parreirinha de Alfama”, Argentina Santos cantou com fadistas que marcaram a história do Fado em Portugal: Berta Cardoso, Lucília do Carmo, Alfredo Marceneiro, Celeste Rodrigues, Mariana Silva, Natércia da Conceição, Natália Bizarro, Helena Tavares, Maria da Fé, Leonor Santos, Beatriz da Conceição, Fernanda Maria – que iniciou a sua carreira na “Parreirinha de Alfama” –, Flora Pereira, Júlio Peres, entre muitos outros.
Graças à autenticidade das suas interpretações e a um estilo muito pessoal, logo se impôs como uma das mais dotadas e prometedoras fadistas da época, tornando-se desde então, para os conhecedores e melómanos do fado, uma intérprete fidedigna da cantiga, na linha das cantadeiras do passado. Os fados “As Duas Santas” e “Juras” foram, entre outros, grandes êxitos desta artista que gravou o seu primeiro disco em 1960.

A não gravação de discos e a recusa de espectáculos, levaram-na à interrupção de uma carreira mais do que prometedora. Muito se especulou sobre esta atitude. Sobre esse período da sua vida, explica a cantadeira: «Nessa altura tinha um companheiro que não gostava nada de me ver cantar em público. Dois anos depois da sua morte casei-me de novo e voltei a ter o mesmo problema. Agora que sou livre, aproveito os convites que me são endereçados. Nada como antes, que os tinha de recusar. Sou muito bem recebida no estrangeiro e isso dá-me imenso prazer, pois o que eu gosto é de cantar. Cantar, como diz a Maria da Fé, ‘até que a voz me doa’».
Tendo-se embora confinado às suas actuações na “Parreirinha de Alfama” e a uma ou outra intervenção em festas públicas e particulares, Argentina Santos não deixou, por isso, de se tornar conhecida e apreciada como cantadeira castiça, porventura uma das mais representativas da escola tradicional do fado.
Actualmente é a mais requisitada fadista portuguesa, dignificando e divulgando ao mundo o fado, a nossa canção por excelência, de forma sublime e inequívoca, sendo, muito justamente, aclamada como a última das grandes fadistas da tradição antiga da Canção de Lisboa.
Venezuela, Curaçao, Brasil, França (96, 97, 98, 99), Konzerthaus em Viena - Áustria, Queen Elisabeth Hall em Londres - Inglaterra, La Cité de La Musique em Paris - França, Catedral de Marselha - França, Dufe Paris - Grécia, Holanda, Escócia, a tournée italiana por Perugia, Modena e Torino, são alguns dos concertos internacionais desta genuína e brilhante fadista. Em Portugal actuou no Coliseu, Teatro da Trindade, Teatro Eunice Muñoz, Teatro Roma (com Simone de Oliveira), reabertura do Teatro Tivoli e no Centro Cultural de Belém.
Em 2004, foi homenageada com um concerto de carreira, no decorrer da Festa do Fado, evento realizado em Lisboa e em 2006 íntegra o elenco do espectáculo de Ricardo Pais “Cabelo Branco é Saudade”.
Argentina Santos é o Fado na sua expressão mais genuína e fascinante. Argentina Santos é a voz do Fado e de Portugal.

terça-feira, 18 de março de 2008

HELDER MOUTINHO E CONVIDADOS NA FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA


O âmbito é o de uma noite de fados: três músicos e um fadista que canta e faz as honras da casa, convidando outros fadistas espontâneos que vão aparecendo e são convidados a cantar ou a tocar. Tudo vale, até um instrumentista de outra área que se atreva a entrar na “Jam Session Fadista” que a noite propõe.Tudo pode acontecer, mas o que mais se deseja é que “aconteça Fado”…
Voz e anfitrião: Helder Moutinho
Guitarra Portuguesa: Ricardo Parreira
Viola de Fado: Marco Oliveira
Viola Baixo: Fernando Araujo
Quando: aos Sábados
Jantares: a partir das 20h00
Inicio do Espectáculo: 22h30
Preço único de bilhete: 5 € por pessoa
Onde: Numa das Salas da Fábrica de Braço de Prata
Rua da Fábrica do Material de Guerra, nº1(em frente aos correios do Poço do Bispo)http://www.bracodeprata.org/ / info@bracodeprata.orgReservas: reservas@bracodeprata.org
... Se Lisboa elege o fado como seu ex-líbris, o fado retribui-lhe, tematizando-a e, ao mesmo tempo, no imaginário de cada um, transportando-a para qualquer outro cenário que, tal como Lisboa para o intérprete, pode ser outra cidade ou outro lugar para quem se deixar envolver nesta viagem imaginária onde ficam – cidade e canção – perspectivadas sob a mesmíssima luminosidade, tremular e intensa, na voz de Helder Moutinho...

Fábrica Braço de Prata (FBP): Fado. Futebol. Fátima. Hélder, queres ordenar os três ‘F’s’ portugueses pela tua ordem de preferência?

Hélder Moutinho: Todos eles são importantes porque cada um deles trata realmente uma fase, uma época do nosso país. Os três ‘F’s’ foram criados num período em que vivíamos num regime de ditadura e, que graças a Deus, já não vivemos. É por esses motivos que são importantes: fazem-nos recordar que temos a liberdade. Dos três, apesar de tudo, o mais importante para mim é o Fado. Quanto a Fátima não posso falar muito porque nunca fui lá. Não sei como é… Isto, não quer dizer que não vá à Igreja ou que não seja crente, mas de facto nunca fui a Fátima. Em relação ao futebol, às vezes, vejo na televisão os jogos, mas nunca fui ver ao vivo. Há uma coisa que me entristece neste país é que a maior parte das pessoas se juntam só para ir ao futebol, não se juntam para outras coisas.

FBP: Acabaste de fazer referência ao nosso regime ditatorial. Achas que está definitivamente enterrada a associação Fado-Estado Novo?

Hélder Moutinho: Completamente. Aliás, acho que até na altura do Estado-Novo já estava a começar a estar desassociada. O Fado é uma música que trata a vida. E nessa época de opressão também soube ser uma música de intervenção. Os Fadistas também tinham de fugir das colectividades quando aparecia a P.I.D.E. para os prender. Os fadistas também cantavam coisas contra o Governo.

FBP: Quais eram os fadistas de intervenção dessa época?

Hélder Moutinho: Quase todos… menos dois ou três. Quase todos cantavam coisas de intervenção. Não foram só os cantores que conhecemos como cantores de intervenção que o fizeram. Os Fadistas também o faziam.

FBP: Houve Fado censurado?

Hélder Moutinho: Houve, houve… Aliás, as casas de fado foram criadas por causa da Censura. O Fado era cantado na rua e nas tascas. Quando se cantava Fado, cantava-se sobre a vida e muitas vezes cantava-se na rua para dar notícias das coisas que estavam a acontecer. Naturalmente cantava-se contra o regime, cantavam-se as coisas más que haviam na altura. Foi nesta fase que o regime decidiu criar uma estratégia para conseguir controlar os fadistas: criou os restaurantes típicos e as casas de fados. Não tanto as casas de fados, mais os restaurantes típicos. E criou uma série de leis. Por exemplo, os candeeiros a imitar os candeeiros de rua, as fardas dos empregados de mesa, as toalhas aos quadrados, os três quatro fados intervalo, mais três ou quatro fados intervalo. Tudo isto porquê? Porque era uma forma de pegar nos fadistas e mete-los todos numa casa de fados. Tudo isto, no intuito de os poder controlar, de poder fazer censura ao Fado. Portanto, é completamente errado as pessoas considerarem o Fado como um dos veículos do regime da ditadura do nosso país, porque não foi.

FBP: E porque é que achas que essa ideia vingou?
Hélder Moutinho: Quando eles (agentes do Estado Novo) começaram a fazer isto, começaram também a controlar uma série de fados. Houve muitos fados que tiveram um grande êxito nessa altura, nomeadamente a ‘A casa portuguesa’: Uma casa portuguesa com certeza, tão pequenina, tão pobrezinha, mas fica contente por ser pobrezinha… Isto foram músicas que foram encomendadas para ajudar a propagandear o regime.

FBP: Voltando aos três 'F’s', achas que são todos’f’s’ de muita fé?

Hélder Moutinho: Não. Acho que não. Acho que são coisas diferentes. Acho que Fé é Fé. Igreja, Deus, Cristo, isto é uma Fé. Tem a ver com a nossa energia - na minha opinião. Futebol é um jogo, é um desporto, uma fonte de muito dinheiro envolvido. Não quero de forma alguma comparar o futebol com qualquer tipo de Fé. Acredito muito na Fé. E muito menos quero compara-la com o Fado, que é uma arte, uma forma de estar na vida, que nos faz crescer e viver para poder ser fadistas. Se calhar não se é fadista só por se ser cantor. Tem de se viver. Tem de ser fadista na atitude de vida.

FBP: Mas o Fado é uma música com muita espiritualidade, não é?

Hélder Moutinho: Acho que o Fado é realmente uma música que tem uma alma muito grande. Isto, porque sofre uma data de influências musicais que emergiram na cidade de Lisboa, numa altura em que Lisboa era uma das cidades mais multiculturais do mundo. Era um dos portos mais importantes, se não o mais importante, antes do terramoto (de 1755). Talvez por isso mesmo, o Fado seja um bocado nostálgico e dolorido. As pessoas começaram a cantá-lo depois do terramoto. E se nós, durante estes anos todos, não nos lembrámos porque seria o Fado uma música triste e oprimida foi porque não nos lembrámos da cena do terramoto. De repente, quando temos a notícia de que aconteceu o Tsunami na Tailândia percebemos o que é que aquelas pessoas sofreram. Nós também tivemos o nosso Tsunami, também nos aconteceu a nós. E sofremos tanto com isso! Perdemos um dos maiores impérios da altura. É natural que o Fado seja uma música séria, uma música realista, uma música que fale da vida assim como o Hip Hop é uma música séria e realista porque também fala da vida. Eu costumo dizer que o Hip Hop de hoje tem muito a ver com o Fado que se cantava no início do século XX e com aquilo que os poetas populares faziam até 1950.

FBP: A Amália Rodrigues é um dogma?

Hélder Moutinho: Eu acho que sim. Ela marcou uma época e aquilo que ela fez ninguém mais o vai fazer. Quer dizer, as pessoas podem fazer outras coisas à escala daquilo que ela fez, mas ninguém vai conseguir fazer exactamente igual. A Amália apareceu numa época específica, transformou o Fado. Trouxe muito mais melodia, trouxe grandes poetas, trouxe-nos grandes compositores, trouxe-nos imagem, divulgou o Fado pelo mundo fora e além disso, tanto ela como o Alfredo Marceneiro, além de serem grandes fadistas, também foram grandes compositores. Deixaram uma grande obra. A Amália não era só voz, era também tudo aquilo que ela deixou ficar. E ela deixou ficar muitas coisas que as pessoas não conhecem, mas que são coisas compostas por ela. Ela editou um livro de poesia, por exemplo, com poemas que ainda hoje estão a ser cantados. Uma das grandes representantes da música portuguesa a nível internacional, a Mariza, num dos seus primeiros sucessos, que está no seu primeiro disco, canta um tema com um poema da Amália. Portanto, estamos a falar de uma pessoa que alia uma série de faculdades fantásticas e que pode ser quase considerada um dogma. Obviamente que antes dela existiram outras e se calhar daqui a uns tempos outras virão. Mas acho que não se deve tocar nela, como é óbvio. Deve-se ter um grande respeito. Ela fez muito. Ajudou a dar o salto em muitas situações. E aí é incontornável.

FBP: Fizeste referência a dois génios do Fado: Amália e Alfredo Marceneiro. Há mesmo Fados para serem cantados por mulheres e outros para serem cantados por homens?

Hélder Moutinho: Sim! Há! Na música brasileira isso não acontece, mas no Fado sim. Há Fados para serem cantados por homens e outros por mulheres.

FBP: No outro dia, num restaurante de Fados, pedi ao fadista residente, que me cantasse o ‘Maria Lisboa’, com letra do poeta David Mourão-Ferreira e imortalizado precisamente por Amália Rodrigues. Ele respondeu-me que aquele era um ‘fado de mulher’. Como é que fazemos a distinção?

Hélder Moutinho: Por acaso o ‘Maria Lisboa’ não é um fado de mulher. O ‘Maria Lisboa’ fala da história de alguém que está a falar sobre Lisboa. De facto, foi a Amália que gravou isso, que o imortalizou, que criou esse fado. Mas o facto dela ter criado e cantado isso não quer dizer que seja um fado de mulher. Agora, obviamente quando nós cantamos ‘oh meu amor marinheiro…’, isso é um fado de mulher. No caso do ‘Maria Lisboa’, não. (canta) ‘É varina, usa chinela, tem movimentos de gata, na canastra a caravela, no coração a fragata’. No fundo, eu posso cantar isto, estou a cantar uma cidade. É um fado sem sexo. A Amália, por exemplo, também escreveu e gravou uma música do fado bailado do Alfredo Marceneiro, com letra dela, que se chama ‘Estranha forma de vida’, esse também não tem sexo. Mas há outros onde realmente existe uma separação.

FBP: A Dulce Pontes representou Portugal no festival Eurovisão da Canção com uma música que dizia: ‘ Fado só quando a saudade vem arrancar do meu passado um grande amor’. O Fado é também uma música de amor?

Hélder Moutinho: Sim, em todos os sentidos. O Amor que se tem por alguém, o Amor que se tem por alguma coisa, o Amor que se sente pela vida, o Amor que se tem pelas causas que se defende. O Amor está envolvido em tudo que está relacionado com o Fado.

FBP: Se eu fosse uma estrangeira e se te perguntasse: ‘ mas afinal o que é que a palavra saudade quer dizer?’, o que me respondias?

Hélder Moutinho: Dizia que é um sentimento que nós temos quando sentimos falta de uma pessoa, de um tempo, de um lugar… Basicamente responderia isso.
FBP: Lisboa, ainda adormece a ouvir o Fado?

Hélder Moutinho: Sim! Graças a Deus.

FBP: Diz-se que o Fado de Coimbra não se aplaude, sente-se. O de Lisboa aplaude-se. O que é que isto quer dizer?

Hélder Moutinho: Eu penso que, tanto o Fado de Lisboa como o Fado de Coimbra foram criados a partir de uma série de influências musicais que emergiram nas respectivas cidades. Lisboa como porto de abrigo, com a emigração, com as colónias e não só…. O Fado de Coimbra, ou a canção de Coimbra, por ser uma cidade universitária e a partir de uma certa altura com as famílias vindas do Brasil e das Africas. Eles influenciaram a música que já se fazia em Coimbra e daí surgiu a canção de Coimbra. Eu penso que antigamente não se aplaudia porque provavelmente era uma música cantada na rua e quando se está a cantar na rua o barulho das palmas pode ser mais complicado do que só o barulho das vozes. Se calhar essa pode ser a razão. Mas hoje o Fado de Coimbra aplaude-se, obviamente. Numa sala de espectáculos é sempre aplaudido e existe uma casa de Fados que se chama a Capela onde as pessoas também o aplaudem. Aliás, eu acho que, como outro género musical qualquer, quando se acaba de cantar seja o que for deve-se bater palmas, deve-se aplaudir a arte daquilo que as pessoas estão a fazer.

FBP: O Fado de Coimbra é também um Fado de filão mais erudito…

Hélder Moutinho: Sim, também. Porque as influências são outras. São outros tempos e são outros espaços. Não é tanto a rua, nem as vielas, não é tanto os bairros. É mais o espírito universitário e talvez por isso mesmo se tornou numa coisa mais erudita.

FBP: Coimbra trata bem o seu Fado?

Hélder Moutinho: Acho que sim. Cada vez mais. Apesar de achar que eles continuam a ser muito conservadores, se houver um espectáculo de Fado de Coimbra as pessoas vão todas. Há um lobbie muito forte. Se calhar, o Fado de Coimbra é mais fechado. Não tem um público tão generalista como o Fado de Lisboa. Agora que tem pessoas muito fiéis, isso tem.

FBP: E Lisboa trata bem o fado de Lisboa?

Hélder Moutinho: Se Lisboa trata bem o Fado de Lisboa? Sim, nestes últimos anos tem se vindo a ver uma afluência muito grande. Inclusive de gente jovem. Aliás, eu acho que tem sido sempre assim, com os seus momentos altos e os seus momentos baixos, mas neste momento acho que o Fado de Lisboa tem bastante sucesso.

FBP: E o Estado português trata bem os fadistas?

Hélder Moutinho: Hum.. Sim, sim… pode-se considerar que sim. Excepto o Primeiro-Ministro que parece que não gosta muito de Fado.

FBP: Houve muitas pessoas que ficaram rendidas ao Fado, depois de descobrirem os fadistas…

Hélder Moutinho: Pois se calhar o nosso Primeiro-Ministro precisa de descobrir mais qualquer coisa.

FBP: E quem é que tu aconselhas a descobrir?

Hélder Moutinho: No fundo, aconselho todas as pessoas. Não é fácil gostar de Fado à primeira vez. ‘Primeiro estranha-se, depois entranha-se’, como dizia o Fernando Pessoa, como a Coca-Cola. Não é na primeira abordagem que se vai gostar de fado, nem tão pouco quando se compra o primeiro disco. É preciso ouvir toda esta gente nova.

FBP: Como a Mariza, a Mizia, a Cristina Branco?

Hélder Moutinho: Sim. E a Mafalda Arnault, a Joana Amendoeira, a Raquel Tavares, a Ana Moura. Destes mais novos ainda o Camané (novos quer dizer… o Camané já tem 41 ou 42 anos e já canta há 20 ou 30).

FBP: O Hélder Moutinho também….

Hélder Moutinho: Sou suspeito para falar disso. Posso falar por exemplo do Ricardo Ribeiro. É um fadista da nova geração fantástico. Depois também é preciso descobrir os discos antigos. Aí aconselho o Fernando Maurício, por exemplo. É importante comparar os antigos e os novos.

FBP: Esta nova geração tem um papel importante para o Fado, não tem?

Hélder Moutinho: Tem um papel fundamental para o Fado. Deram o salto do gueto e tentam ir às televisões, fazem promoções, trazem o público jovem ao fado. Uma das vantagens que os jovens fazem é que trazem o grande público ao Fado. Isto é, eles por serem jovens, têm carreiras e gravam discos e isso faz com que as pessoas fiquem atraídas pelo Fado. Faz também com que elas entrem no gueto, nas casas de Fado. As pessoas entram nos sítios e depois aí descobrem as grandes relíquias que lá estão, os grandes testemunhos das pessoas mais velhas que cantam Fado, que muitos não sabiam que elas existiam. Ao entrar no gueto e ao entranhar-se no universo do Fado, as coisas começam a funcionar.

FBP: Quais são as grandes dificuldades que o Fado encontra?

Hélder Moutinho: Eu acho que as dificuldades são, no fundo, as mesmas que qualquer outro género musical se depara. Ou seja, as pessoas têm sorte ou não têm sorte, têm talento ou não têm talento.

FBP: O talento basta para se vingar numa carreira de Fado?

Hélder Moutinho: Eu acho que sim, eu acho que a verdade é uma coisa que vem sempre ao de cima, mais cedo ou mais tarde.

FBP: O Museu do Fado é um projecto bem conseguido?

Hélder Moutinho: Sim, bastante bem conseguido. É importantíssimo, porque está lá tudo. Tudo o que nós precisamos saber sobre Fado está lá. Tem sido um trabalho intenso e que está sempre a crescer. As pessoas têm colocado lá uma série de informações. É muito importante para divulgar o Fado na sua história e no seu panorama actual. O Museu do Fado é uma ferramenta importantíssima para qualquer pessoa que queira saber alguma coisa sobre o Fado. É um local que geralmente está de portas abertas para quem quer fazer um lançamento de um disco, um lançamento de um livro sobre Fado, para quem quiser saber informações sobre esta música. Por exemplo, basta mandar um e-mail a perguntar por uma lista de todos os guitarristas e eles enviam a resposta prontamente. Tem também uma escola, a Escola de Guitarra Portuguesa e acima de tudo, é também uma pequena lição para o público em geral, na medida em que este Museu tenha à sua frente uma pessoa que não é uma pessoa da velha geração. É uma jovem, foi para lá com 20 e poucos anos para gerir o Museu, e hoje conseguiu provar que não é preciso ser-se velho para se poder fazer um trabalho bem feito.

FBP: Ultimamente, o Fado tem sido alvo de várias renovações. Encaras bem essas novas renovações? Por exemplo, já ouvi americanas a cantarem fado em português, ou a Mizia que de vez em quando canta em francês…

Hélder Moutinho: A Mizia canta uma ou outra canção em francês, mas, geralmente quando canta Fado canta em português. Das duas uma, ou gostamos ou não gostamos. Se existe uma francesa a cantar Fado em português nós vamos ouvir e aquilo pode ser bom ou pode ser mau. Eu já ouvi um francês com 80 anos a cantar Fado e gostei.

FBP: O Charles Aznavour, que no sábado passado encheu o Pavilhão Atlântico, deu uma entrevista à RTP, onde confessou que já tinha escrito um Fado…

Hélder Moutinho: Sim, fez uma coisa do Léman para a Amália Rodrigues. Eu acho que o Charles Aznavour é um grande fadista. Ele tem alma de fadista, assim como a Edith Piaf tinha, assim como o Frank Sinatra tinha, assim como a Elis Regina tinha, assim como a Ella Fitzgerald tinha.

FBP: O que é ser-se fadista?

Hélder Moutinho: Acima de tudo, é ter a capacidade de poder contar histórias. E de poder transmitir a alma que se tem quando se conta essa história. E fazer isso a cantar. O Aznavour tem essa capacidade e a Edith Piaf também tinha. Se fossem portugueses, se tivessem nascido em Portugal, teriam sido grandes fadistas.

FBP: O Atlântico sempre serviu para inspirar muitos Fados. Que outras paragens inspiram o Fado?

Hélder Moutinho: Muito a cidade de Lisboa, muito os portos, as partidas e as chegadas. Para mim, basicamente, é o local, o sítio, o panorama, os bairros, a cidade, o porto de abrigo. Depois, os vários sentimentos: a Saudade, o Amor, a Crítica, a condição do fadista, a condição de vida, a raiva que se possa ter sobre as coisas que não estão bem e falar delas. O Fado é essencialmente uma música urbana que permite falar de uma série de coisas.

FBP: E, neste momento, para acolher o Fado, quais são os melhores portos de abrigo internacionais?

Hélder Moutinho: A Holanda acolhe muito bem o Fado. Assim como a Bélgica, a França e a Espanha. Especialmente o Norte de Espanha (Olviedo, Gijón, Porto Gijón etc…) gosta muito de Fado. Cheguei lá a fazer um concerto para 2 mil pessoas e eles adoraram. O Japão também gosta muito de Fado, por aquilo que eu sei.

FBP: Actuas regularmente no estrangeiro?

Hélder Moutinho: Sim, bastantes vezes. O ano passado estive durante 22 dias nos Estados Unidos, na parte Norte. Tive em Chicago no World Music Festival, no Chicago Cultural Center. Tive no Lots Festival, depois em Seatle, Vancouver. Também já tive no Leacon Center, em Nova Iorque, na APAP, que é uma conferência onde se reúnem todos os programadores de festivais e de salas de espectáculos, em Nova Iorque. Este ano, vou voltar aos Estados Unidos, desta vez a Washington, para mais uns concertos, um deles incluído num festival. Espanha, França, Inglaterra e Holanda também já fizeram parte das minhas paragens. Este ano, vou voltar a Holanda, a Vredenburg e vou também a Bruxelas. Vredenburg é, de certa forma, o sítio onde o Fado chegou primeiro. Os fadistas iam lá todos, antes da Cristina Branco chegar à Holanda. A programadora desta sala gostava muito de Fados, vinha a Portugal ouvir os fadistas e dizia ‘gostava que este fadista fosse lá’. E a partir do momento em que ele lá estava, ela comunicava às outras salas. Depois, organizava-se logo uma tournée. Foi assim que tudo começou na Holanda. Isto há 10 anos.

FBP: Então, as actuações que tens no estrangeiro, não se restrinjem necessariamente a um público português, de emigrantes. A panóplia é muito vasta?

Hélder Moutinho: Posso dizer que quando estivemos nos Estados Unidos fiz o Centro Cultural de Chicago e não encontrei portugueses nenhuns, depois fomos a San Francisco onde também não encontrámos portugueses. Quando chegámos a Vancouver tivemos metade da sala com portugueses. Foi sem dúvida o melhor espectáculo de toda a tournée. Só o calor que os portugueses nos deram, ajudou-nos a nós, depois de uma viagem de quase 16 horas, a fazer um espectáculo de quase duas horas. A força e o carinho que nos dão, o agrado que eles demonstram em ter-nos ali, é algo fantástico. Mas, senão, regra geral, há sempre portugueses nas salas. E para nós isso é fantástico. Perguntamos sempre, no meio do espectáculo, ‘há portugueses na sala?’ e quando há obviamente temos todo o prazer em lhes dedicarmos um Fado.

FBP: E há algum Fado especial que dedicam às nossas comunidades no estrangeiro?

Hélder Moutinho: Um qualquer. É aquilo que na altura nos der na real gana!

FBP: Um aplauso de um estrangeiro é mais ou menos sentido que um aplauso de um português?

Hélder Moutinho: Não é mais nem menos sentido, é diferente. O que eu posso diferenciar é o aplauso de um português em Portugal e o aplauso de um português fora de Portugal.

FBP: Queres-nos diferenciar?

Hélder Moutinho: É como do dia para a noite…

FBP: Conta-nos…

Hélder Moutinho: Lá fora, é muito forte. Os portugueses sobem as cadeiras para nos aplaudir. E quando nós acabamos o espectáculo, se for preciso, levam-nos ao colo. Eles têm muitas saudades. Mesmo os que não gostavam de Fado, passam a gostar. Sentem, na nossa actuação, uma forma de se sentir em casa. Sentem-se de regresso. Quanto mais longe estão de Portugal, mais perto estão de nós neste tipo de aplauso.

FBP: Desde quando é que o Fado te corre nas veias?

Hélder Moutinho: Eu nasci no meio de uma família ligada ao Fado. O meu bisavô já cantava Fado. Por aquilo que me consta, eu faço parte da geração mais antiga de Fado no mundo. Existiu uma geração que diziam que era a mais antiga: a do Alfredo Marceneiro. Até um certo ponto é verdade. Era o Alfredo, depois foi o filho do Alfredo e agora é o neto do Alfredo. Ora, eu tenho o meu bisavô, o meu avô, o meu pai, eu e os meus irmãos. Portanto, nós somos a geração mais antiga. A não ser que haja alguma com cinco gerações, mas eu acho que só há quatro gerações.

FBP: Gostas que te associem ao teu irmão, ao Camané?

Hélder Moutinho: Não. Não, porque, desde muito cedo, eu sempre fiz questão de não nos associarmos. Nunca fazemos coisas em conjunto, temos cada um o seu caminho, e por esse motivo é que também não temos nomes iguais.

FBP: Mas nos jantares de família, há Noites de Fados com os dois manos, não há?

Hélder Moutinho: Não, não… Não há fados em casa. Não se canta Fado em casa. Em casa, fala-se das viagens, do futebol, do cinema, dos filmes, das outras coisas todas… mas não se fala de Fado.

FBP: Então, não se pode ouvir Hélder Moutinho e Camané juntos?

Hélder Moutinho: Não, não se pode.

FBP: Por enquanto…

Hélder Moutinho: Sim, por enquanto… Nós fazemos questão de termos caminhos diferentes. Se calhar a maior parte dos 10 milhões de habitantes deste país, não sabe que o Janita Salomé é irmão do Vitorino. E não precisam de saber. O Janita Salomé tem o seu valor, tem o seu talento e tem a sua carreira. O Vitorino tem a dele. Cada um está no sítio onde tem de estar.

FBP: E como é que te vês daqui a dez anos?

Hélder Moutinho: Daqui a dez anos… não consigo imaginar.

FBP: Muitos discos?

Hélder Moutinho: Não, porque eu não gosto de gravar um disco por ano ou um disco de dois em dois anos. O meu último disco saiu em 2004.

FBP: E o próximo já está agendado?

Hélder Moutinho: Vai ser em Setembro ou Outubro deste ano.

FBP: E vai incidir sobre uma temática particular?

Hélder Moutinho: Eu acho que no desenvolvimento do próprio disco é que a temática vai surgir. Não quero pensar numa temática por antecedência. O que eu sei agora é que quero fazer um disco, quero começar os ensaios com as pessoas com quem quero gravar o disco, quero começar a compor coisas novas e começar a perceber o que vai acontecer depois de se reunir os temas todos. No fundo, saber para onde é que vamos.

FBP: Mas já fizeste discos com temáticas precisas…

Hélder Moutinho: Sim! Não quer dizer que não tenha feito discos e espectáculos com temáticas. O Maldito Fado era um disco com temática. Tinha um alinhamento específico. Os primeiros quatro fados eram sobre os bairros de Lisboa, depois os outros quatro eram sobre o Amor, os outros sobre a Saudade. O Maldito Fado tinha também alguns instrumentos convidados de outras áreas que não têm nada a ver com o Fado e por isso mesmo é que se chamava Maldito Fado. Mas apesar de tudo, era Fado puro e duro. Afinal, eu não caí de pára-quedas. Acho que a temática é o próprio Fado.

FBP: Para terminar, que pergunta é que gostavas que te tivesse feito e não fiz?

Hélder Moutinho: Hum… Não me vem mesmo à cabeça… Não sei se queres escrever isto, mas eu já fiz muitas entrevistas e acho que desta vez houve perguntas originais, o que é bom para mim.

Perguntas Rápidas/Respostas Curtas:
Melhor fadista masculino? Alfredo Marceneiro e Alfredo Maurício.
Melhor fadista feminina? Beatriz da Conceição.
Melhor letrista de Fado? João Linhares Barbosa.
Melhor guitarrista? Ricardo Rocha.
Fado que mais gostas de cantar? Vielas de Alfama.
Fado rima com… Vida
Uma casa de fados de referência? Taverna do Embuçado.
Fado à desgarrada ou sozinho? Sozinho.
Fado com orquestra soa bem? Como experiência, sim.
Uma bebida para acompanhar um Fado? Água!
A melhor voz para acompanhar Hélder Moutinho? Já morreu, mas seria Fernando Maurício.
Castelo, Mouraria ou Alfama? Alfama.
Uma sala de sonho? A Eduardo Prado Coelho, na FBP.
O último livro que leste? Poemas escolhidos do Mário de Sá Carneiro
Três palavras sobre a FBP? Saudável, Anárquica (no bom sentido) e Arriscado (porque é sempre um risco cantarmos para um público que nem sempre é um público de Fado). pela operária Tânia Ribeiro

sexta-feira, 7 de março de 2008

RICARDO PARREIRA NA HOLANDA


Ricardo Parreira actuou no passado dia 07 de Março no Vredenburg em Utrecht. A seu lado esteve João Bengala (Guitarra Clássica) para um concerto numa das mais emblemáticas salas de espectáculos da Holanda. Este foi o primeiro concerto dado pelo jovem guitarrista em terras da Benelux, depois do lançamento do seu primeiro album "nas veias de uma guitarra" um tributo ao guitarrista Fernando Alvim.


Ricardo Parreira (21 anos de idade/Guitarra Portuguesa) iniciou os estudos de Guitarra Portuguesa aos 7 anos de idade pela mão de seu pai, António Parreira, um dos guitarristas mais conceituados no panorama musical do Fado. Aos 13 anos acompanhou pela primeira vez a fadista Argentina Santos e logo de seguida foi convidado a participar no Festival “Um Porto de Fado”, realizado no âmbito do evento “Porto 2001, Capital da Cultura”. Durante todos estes anos a sua formação musical, desde muito novo até passar pelo Conservatório Nacional, foi em redor dos grandes compositores de guitarra portuguesa, desde Carlos e Artur Paredes, num conceito mais virado para a guitarra de Coimbra, até aos lisboetas: Armandinho, José Nunes, Francisco Carvalhinho e Jaime Santos. Isto para além de tocar com alguns dos Fadistas mais importantes do panorama actual: Camané, Mísia, Mafalda Arnauth, Argentina Santos, entre outros.
Foi em 2005 que a história a dois se iniciou. Para dia 12 de Agosto estava marcado para a Casa da Música, no Porto, um espectáculo de fado de Camané. Para a primeira parte, surgiu a ideia de se organizar uma sessão de guitarradas. Com 18 anos, Ricardo Parreira subiu ao palco, de guitarra na mão, para tocar ao lado do viola dos violas portugueses, o mestre Fernando Alvim, o único a conseguir, durante uma vida, acompanhar, valorizando, o génio de Carlos Paredes. A noite foi memorável. Depois da prova de fogo com Alvim, Ricardo ainda acabou por tocar para Camané. Mas foi o começo de uma relação sólida, que neste disco se revela plena, que marcou o jovem guitarrista.

Fernando Alvim não demorou a convidá-lo para ensaiar em sua casa. A admiração entre os dois foi crescendo, ao ponto do guitarrista sentir necessidade de homenagear o mestre com um tributo. O desafio era que o seu primeiro disco surgisse como um tributo a Fernando Alvim e que neste caso o repertório escolhido seria uma série de temas dos compositores com quem o violista tinha tocado para além de outros da sua eleição. Desafio aceite, o repertório escolheu-o Ricardo: José Nunes, Francisco Carvalhinho (Guitarra de Lisboa), Artur Paredes e, claro, Carlos Paredes (Guitarra de Coimbra), o compositor de guitarra portuguesa preferido de Ricardo e o senhor que Fernando Alvim ajudou a brilhar durante 25 anos. A estes temas incontornáveis da história da guitarra portuguesa foram acrescentadas uma composição de Armandinho, guitarrista compositor com quem Alvim nunca tinha tocado, embora tenha por ele uma grande admiração, e um tema da autoria do próprio Fernando Alvim, neste caso (duas violas) interpretado pelo mestre e sua esposa Rosário Alvim “Encantamento”, o último da lista. Nascia um desafio completamente original no mundo do fado, só concretizado porque o mestre de 72 anos reconhecia qualidade suficiente no “miúdo” de 20.
“Sujeitei-me a ir estudar as coisas de que já não me lembrava”, conta Fernando Alvim com a humildade que caracteriza a sua sabedoria. Os ensaios para este tributo duraram dois meses. Entre Setembro e Outubro de 2006, todas as quartas-feiras, Ricardo saía de Carnaxide para se sentar calmamente no quarto de Fernando Alvim, na velha casa de famí­lia às portas da Rua do Século. Tardes longas, onde cada erro que Ricardo cometia era gentilmente corrigido por Alvim, num encontro de gerações que foi enriquecendo os dois músicos, entre discussões sobre ritmos e interpretações.
“Este é um disco nitidamente ricardiano”, diz Fernando Alvim. “Eu, como acompanhador, fui atrás do solista, sempre foi essa a minha missão”, continua, os olhos a brilhar pela surpresa agradável que Ricardo lhe proporcionou: “Nunca pensei voltar a tocar Carlos Paredes nem estes outros compositores sem ser com ele”. Nesses olhos que continuam a brilhar, Fernando parece regressar aos seus 26 anos e reviver os seus primeiros encontros com Paredes. “Nunca me hei-de esquecer do choque inicial que foi ouvi-lo tocar guitarra e ter de o acompanhar. Parecia que não ia conseguir fazer nada. Ele tocava com uma pujança muito grande e eu tinha que ir atrás. Mas quando compreendi a sua maneira de tocar e interiorizei o seu estilo, a dupla seguiu em frente por esse mundo fora”.

Ricardo tem consciência da grandiosidade dessa dupla que fez história. Sabe de cor que é impossível tocar da mesma forma que Paredes. “Não há força que lá chegue, nem vigor capaz de o imitar”. É a composição e a construção das peças de Carlos Paredes que respeita na íntegra, mas às quais dá uma interpretação só sua. E não tem dúvidas de que o pode fazer. “Se o Fernando Alvim diz que posso tocar Paredes, é porque posso mesmo”. E quem diz Paredes diz o mí­tico Armandinho, o carismático José Nunes, ou o saudoso Francisco Carvalhinho…
O resultado, gravado em quatro dias, cheira a liberdade, tem o sabor da alegria e a frescura da genialidade que faz tremer os sentidos. É uma espécie de néctar mais suave do que o mel e mais forte que o dos deuses. Perdura na eternidade como todas as músicas que têm o dom da intemporalidade.
Fonte: HM Música

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

RAQUEL TAVARES À CONQUISTA DA BENELUX


O Fado é frequentemente definido como a “missa solene” da melancolia: nostalgia, tristeza, solidão e desgosto de amor parecem atrair multidões aos teatros. O fadista, homem ou mulher, geralmente vestido de preto, semblante marcado pela dor, olhos fechados ou mãos dobradas entre o xaile, interpreta canções com imprescindível saudade – este desejo indescritível por tempos idos que nunca voltarão.
Desde a ressurreição do estilo no final do século passado, os aficionados do fado podem assistir regularmente a concertos que, grosso modo, podem ser classificados em teatrais, inovadores ou clássicos. Raramente aparece um fadista em palco capaz de unir todas essas facetas. E já há muito tempo não via uma apresentação com a respiração contida.
A fadista em questão é Raquel Tavares: 23 anos, lisboeta e que canta, segundo suas próprias palavras, desde os 5 anos. Raquel percorreu o percurso clássico: cantando em casa, no centro comunitário e na taberna da esquina, onde foi descoberta. A partir dos 17 anos é convidada a cantar no Senhor Vinho, Luso e Bacalhau de Molho, prestigiadas casas de fado onde cantam muitos dos mais destacados artistas do Fado Lisboeta.
No domingo, 17 de Fevereiro, Raquel Tavares apresentou-se no Vredenburg Leeuwenbergh para uma sala esgotada. Tive o prazer de estar presente durante o soundcheck. No ensaio vi uma rapariga alegre e saltitante, com uma camisola rosa de gola alta. Se ela podia cantar o fado segundo as regras que esta arte exige, era uma incógnita. Até ressurgir em palco e se apresentar como fadista. Vestido negro, cingido com um laço vermelho e arranjo floral no cabelo. Nada a ver com aquela rapariga alegre do soundcheck. No palco estava a cantar uma pessoa vivida, que sabe exprimir raiva, alegria, tristeza, enfim toda a sua alma e beatitude em sua arte. Senti um arrepio na espinha enquanto a sala inteira suspirava.
Esta foi talvez a abordagem mais próxima do verdadeiro espírito do fado em palco que alguém poderia presenciar fora de Portugal. Raquel Tavares não cantou o fado, ela era o fado.
A surpresa, no entanto, veio a seguir, na segunda parte do concerto, quando os músicos que a acompanhavam deixaram o palco e ela própria se acompanhou com a guitarra portuguesa. A interpretação foi um pouco convincente, diferentemente dos aplausos que se seguiram.
Os grandes nomes da nova geração de fadistas têm aqui uma formidável concorrente. Se Raquel Tavares continuar a se desenvolver assim, alcançará Mariza e Cristina Branco.


By Philip Nijman in De volkskrant NL
Tradução: Alzira Arouca
Photo: João Pina

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

RAQUEL TAVARES (FADO)

E assim a história repete-se: tal como quando o fado voltou a entrar num panorama mais popular e emblemático com o aparecimento dos novos valores da década de 90, também agora podemos afirmar que Raquel Tavares é “A Fadista Mais Representativa da Nova Geração”.
Existe ao redor da artista um “íman” que atrai a criação de todos os que a rodeiam, desde o disco ao espectáculo que se foi criando por si só, na inspiração daquilo que é a personagem principal e ao mesmo tempo a “musa” deste projecto. Tinha de ser mesmo assim. Não se poderia abordar outro tema, senão a “História de uma Cantadeira”. A história de Raquel Tavares.
Inevitavelmente “O Seu Destino”, aquilo que ela nunca poderia deixar de ser.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

YAMI“Aloelela” | “África? É a minha mãe…”


Era uma vez um minhoto que veio a Lisboa e se fascinou pelos barcos que no cais partiam para África.
Após ter cumprido o serviço militar, antes da Guerra do Ultramar, pediu emprego a bordo de um navio que partiria para Luanda. Sendo este um aventureiro multifacetado, rapidamente foi contratado, partindo assim para a grande aventura.
Em Angola não tardou a perceber que ali seria o início do “resto da sua vida”. Conheceu uma mulher Africana, com quem casou e teve filhos.
Um deles, Fernando Araújo, viveu em Luanda até aos 4 anos de idade. Com a Guerra do Ultramar e a Revolução Portuguesa em 25 de Abril de 1974, a maior parte dos portugueses que viviam nas colónias regressaram a Portugal, tendo em conta a instabilidade de vida nesse momento de crise.
Esta família foi uma delas. Instalaram-se nos subúrbios de Lisboa e ali recomeçaram mais uma vez “o resto das suas vidas”.
“África é a minha Mãe” é a expressão mais fluente de Fernando Araújo (YAMI), quando questionado acerca do seu país de origem. Isto porque a senhora Maria Augusta, uma Africana nascida numa roça de café no interior de Angola, fez questão de transmitir aos filhos toda a magia da sua terra natal, toda a riqueza e toda a paixão que ela mesma sentia e sente acerca desta terra onde nasceu e cresceu, num tempo de paz e de felicidade.

Esta não é de modo nenhum uma história única, ou de uma única família. É a história de milhares de famílias, que viajaram para Portugal em virtude da guerra e da queda de uma terra mágica como esta e como outras no continente Africano. E que tentaram sempre transmitir aos filhos uma mensagem de paz e de esperança, para que pudessem crescer como boas pessoas, sem revolta e sem mágoas. Fazendo-os acreditar na terra que os teria visto crescer.
Fernando Araújo (YAMI) não voltou a Angola depois dos seus 4 anos de idade. Não conhece o país onde nasceu, como ele é agora. Mas conhece uma África ou uma Angola descrita e revelada pela mãe, que nela nasceu e cresceu como quem nasce e cresce num canto do paraíso.
E, por mais estranho que pareça, neste disco tudo isso se reflecte, como se ele próprio lá tivesse crescido, num outro tempo. No tempo das histórias contadas pela senhora que fez questão de lhe ensinar minuciosamente o seu dialecto (kimbundu), assim como de fazer crescer-lhe na alma as suas mais verdadeiras raízes.
“Eles estão a rir” é o significado do tema que dá o nome ao primeiro disco de YAMI. E que no fundo é o seu projecto de vida como músico, intérprete e compositor. Contando e sonhando as boas histórias de um país bom, sem esquecer todas as suas realidades presentes, como é óbvio, mas acima de tudo aquelas que retratam um passado que ainda voltará a ser futuro.

Helder Moutinho


Que a pele do som é mestiça…


“[…] O mundo deixara de ser o somatório de mundos fechados, era um só, cada vez mais mestiço”.
Pepetela, Lueji: O Nascimento Dum Império, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1990, pp. 26-27
Vêm de sul e são transmarinas, as raízes. Talvez por isso, não há som nem verso nem panorâmica que não se tropicalize.
Irredutivelmente diversas, fincam-se nas figuras rítmicas panafricanas, entre formas tradicionais e inovações crioulas — quer nas das músicas de dança das cidades de África, como semba, coladera e morna, quer nas das músicas da diáspora africana, como funk, reggae e rumba — e germinam nas criações musicais de YAMI outra e outra e outra coisa.
O canto, adestrado pelo batuque do coração, mistura vocábulos em kimbundu, crioulo cabo-verdiano e português, em acento e ritmo moreno, numa convizinhança estreita, antiga, que liga um idioma ao outro, um país ao outro.
Se de olhos bem fechados — como se aconselha a escuta —, experimenta-se sem distância a canícula dos lábios que cantam e riem; o ébano dos corpos dançantes que, ora juntos ora separados, alisam capins e enxotam formigas, e o aroma dos cajueiros floridos e das mangueiras em fruto, subindo e descendo a espiral do som que torna viagem do hemisfério da alma.
Aloelela* é, no mesmo passo, desejo e celebração, corporalidade e espiritualidade. Em síntese, uma afro-lusofolia tão contagiante como o riso.
Ana Gonçalves
*Aloelela é uma palavra em kimbundu (língua tradicional angolana) que significa “eles estão a rir”.

Composição Musical (Concerto):
YAMI: Voz e Guitarras;
Nelson Canoa: Teclas e Acordeão;
Tiago Santos: Guitarras;
Ciro Cruz: Baixo;
Vicky: Percussões.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

HELDER MOUTINHO | NOITES DE FADO NA FÁBRICA DE BRAÇO DE PRATA


O âmbito é o de uma noite de fados: três músicos e um fadista que canta e faz as honras da casa, convidando outros fadistas espontâneos que vão aparecendo e são convidados a cantar ou a tocar. Tudo vale, até um instrumentista de outra área que se atreva a entrar na “Jam Session Fadista” que a noite propõe.

Tudo pode acontecer, mas o que mais se deseja é que “aconteça Fado”…

Voz e anfitrião: Helder Moutinho
Guitarra Portuguesa: Ricardo Parreira
Viola de Fado: Miguel Monteiro
Baixo: João Penedo

Quando: aos Sábados
Jantares: a partir das 20h00
Inicio do Espectáculo: 22h30
Preço único de bilhete: 5 € por pessoa

Onde: Numa das Salas da Fábrica de Braço de Prata

Rua da Fábrica do Material de Guerra, nº1
(em frente aos correios do Poço do Bispo)

http://www.bracodeprata.org/ / info@bracodeprata.org
Reservas: reservas@bracodeprata.org

Se Lisboa elege o fado como seu ex-líbris, o fado retribui-lhe, tematizando-a e, ao mesmo tempo, no imaginário de cada um, transportando-a para qualquer outro cenário que, tal como Lisboa para o intérprete, pode ser outra cidade ou outro lugar para quem se deixar envolver nesta viagem imaginária onde ficam – cidade e canção – perspectivadas sob a mesmíssima luminosidade, tremular e intensa, na voz de Helder Moutinho...

JOANA AMENDOEIRA (FADO)



O fado não mora mais nas ruas de Alfama. Nem nas estradas do Ribatejo. Quando Joana Amendoeira o renova, o fado está onde ela for, deixa de ser propriedade de alguém ou de algum sítio, para ser melodia de todos.
O seu espectáculo é um momento que retrata um envolvimento intenso e cheio de verdade. A ideia foi criar um grupo de fados e não apenas uma Fadista com os seus músicos acompanhantes.
Pedro Amendoeira na Guitarra Portuguesa, Pedro Pinhal na Viola de Fado e Paulo Paz no Contrabaixo e Baixo Acústico, instrumentistas e compositores de alguns dos temas, revelam aqui que, para se poder criar um projecto forte e característico, é preciso viver cada momento como se fosse o último.
Nele, todos imprimem um cunho muito particular, revelando todos os sentimentos que se encontram, de facto, à flor da pele.

WOMEX 2007: Portugal volta a conquistar o mundo

A WOMEX, principal feira de músicas tradicionais (e tudo à volta), tem sido, ao longo de cerca de década e meia de existência, “a” montra de projectos emergentes dos quatro cantos do mundo que aí se dão a conhecer à imprensa e, sobretudo, aos programadores dos principais festivais do planeta. Uma boa prestação num “showcase” de meia-hora poderá representar a aquisição de uma “carta verde” para actuações regulares na Europa e na América do Norte e a possibilidade de um disco desse projecto ser distribuído a nível mundial. Apesar de haver inúmeros artistas que não necessitam de actuar neste certame para entrarem no “circuito”, o certo é que os seus agentes e editores não dispensam os três ou quatro dias de contactos ao mais alto nível que esta feira proporciona.
Se olharmos para o panorama da música feita por cá, verificamos que muito poucos músicos nascidos (ou a residirem) no nosso país pisaram os vários palcos disponíveis para “show cases”. Mas aqueles que tiveram o talento de o fazer (e a qualidade necessária para convencer os “sete samurais” a integrar determinada “colheita”), como SARA TAVARES ou MARIZA, não esquecerão tão cedo que a WOMEX serviu de “rastilho” para uma carreira internacional que “explodiu” pouco tempo depois. ANA SOFIA VARELA só não aproveitou o mesmo “embalo” porque teve de interromper a sua carreira musical para cuidar do seu rebento. O fado é, cada vez mais, uma das mais apetecíveis “iguarias” do, cada vez mais, miscigenado “cocktail” da “world music”. Claro que os MADREDEUS foram uma espécie de Bartolomeu Dias que transformaram o Cabo das Tormentas em Boa Esperança, abrindo o caminho à filiação da canção urbana de Lisboa para os palcos internacionais, mostrando aos programadores de festivais “world” e aos “media” da especialidade que em Portugal faz-se um certo tipo de música que é único, só nosso. É essa autenticidade, esse “blues” urbano da cidade de Lisboa, que cativaram editores holandeses (World Connection) e norte-americanos (Times Square) e programadores de espectáculos da vizinha Espanha como a Syntorama, que trabalha, provavelmente, com mais músicos portugueses do que espanhóis.A miscigenação de LisboaLisboa tem sido também berço de muita da música da África lusófona, apreciada sobretudo lá fora. Inúmeros são os artistas (BONGA, WALDEMAR BASTOS, LURA, SARA TAVARES, MANECAS COSTA, NANCY VIEIRA, TITO PARIS, etc) que usam a grande Lisboa como um local onde se recupera energias antes, durante e depois de intensas digressões. Para além disso, certos grupos mais ligados à “folk”começam também a tocar com regularidade em importantes festivais do género. Veja-se a ascensão internacional dos DAZKARIEH. Coisa impensável há uns anos atrás quando alguma “inteligência” questionava como seria possível a uma banda, que não se pautasse pela autenticidade que o fado garante a alguns intérpretes portugueses, competir com músicos britânicos ou nórdicos tecnicamente muito mais dotados. Apesar de nunca terem tido a oportunidade de efectuar um “showcase” na WOMEX, a banda de VASCO RIBEIRO CASAIS tem tido presença assídua nestes últimos quatro anos. Basta olharmos para a agenda de concertos dos dois últimos anos para verificar que o quarteto já começou a colher os frutos do investimento efectuado e nunca prescindirá de regressar a esta feira. Este ano, os GAITEIROS DE LISBOA asseguraram a única presença portuguesa nos “show cases” da WOMEX e JANITA SALOMÉ foi seleccionado para uma segunda lista de reservas para colmatarem eventuais desistências entre as cerca de quatro dezenas de projectos alinhados. Curiosamente, dois nomes não ligados ao fado, entre um dos mais fortes lotes de sempre, com alguns “tubarões” pelo meio, que não precisavam de ir à WOMEX para serem figuras de cartaz nos principais festivais “world”, como são os casos de BAJOFONDO TANGO CLUB, MAYRA ANDRADE ou TOUMAST. Aqui se constata, quer a importância cada vez mais determinante na angariação de datas para a “tournée” de uma banda, quer a maior qualidade dos projectos seleccionados pelo júri que parece saber, felizmente, o que é a nata da nata da música tradicional portuguesa além-fado.
[…] Luís Rei

RUI GARRIDO O “designer” do jazz e do fado"

Os puristas do jazz e da música portuguesa deverão, com certeza, ficar escandalizados com a revelação, mas a música que se ouve durante a paginação da revista jazz.pt e a feitura das capas de discos de Mafalda Arnauth, Ana Sofia Varela, Hélder Moutinho, Joana Amendoeira, Pedro Jóia, Ricardo Parreira e outros músicos e fadistas, é o rock – vertentes psicadélica, space e stoner, gravado nas décadas de 60 e 70 ou feito agora na frente roqueira que vem recuperando e continuando as experimentações daquela época. São estes os sons predilectos do “designer” que todos identificam com as “imagens” do jazz e do fado em Portugal, pelo facto de conceber o grafismo da única revista deste género musical que por cá se publica, de fazer as excelentes capas da editora discográfica Clean Feed – uma das cinco mais importantes do planeta jazz, diz a crítica lá fora – com o seu cunho muito pessoal e de ser o autor ainda de muitos dos cartazes e do material de promoção de festivais e concertos nestes domínios que por aí se realizam. Quando Pedro Costa, o responsável maior da Clean Feed, e Pedro Rocha Santos, o director da jazz.pt, se deslocam ao atelier de Rui Garrido em Oeiras para trabalhar com ele, ouvem-se alguns protestos, mas o mais que os dois conseguem é o Rui baixar o volume. Pela minha parte, nas duas semanas em que estou diariamente a fechar a publicação que edito, cada dois meses, com este surfista recuperado pela paternidade – tem-no afastado das ondas um rapazinho loiro de olhos azuis que contrasta com a sua pele de beduíno e o seu nariz romano –, não só lhe peço para me mostrar discos que não conheço, como lhe levo os da minha própria colecção. Sim, este crítico de jazz e música improvisada também gosta de rock alternativo e quando estamos juntos é uma festa. Nem imagino o que o pessoal da HM Música, produtora ligada à “música do mundo” que ocupa o piso de cima do edifício e com a qual Garrido também colabora, pensará sobre aquilo que é obrigado a ouvir, entre malhas guitarrísticas de acidez citrina e “feedbacks” dirigidos para o cosmos... Sendo eu conhecido por não emprestar discos a ninguém, imaginam o sofrimento por que passo quando se recusa a devolver-me os cedês durante longos períodos de tempo.
Em mais de 20 anos de jornalismo profissional, tenho sempre trabalhado de muito perto com “designers” gráficos. Além disso, sou irmão de um e alguns dos meus amigos mais próximos têm igualmente uma notável actividade nessa área. A verdade é que a minha parceria com o Rui Garrido é a melhor que tive até à data, pela empatia profissional conseguida e pelo relacionamento humano que temos estreitado. Não que seja fácil trabalhar com ele – não só o Rui é incapaz de estar concentrado numa tarefa mais do que 15 minutos de cada vez, como não o deixam. O telefone toca incessantemente (também produz catálogos de moda, aliás a base do seu sustento, porque isto da música não “paga”), é permanentemente requisitado pelo seu sócio na Bullshit Productions, empresa dedicada ao vídeo, à “urban art” e ao vestuário (sobretudo “t-shirts” com dizeres do tipo “Bang Me”), cujo escritório está montado na cave, além de que a campainha da porta soa sem parar para dar entrada a modelos que vêm a alguma audição, daquelas que fazem parar tudo só para as vermos passar, à contabilista que também é funcionária de uma distribuidora de discos (já recebi uns promos à pala disso) ou a amigos que aparecem simplesmente para dizer olá, incluindo um que além do referido “olá” vai contando histórias sem parar, metendo polícias, actores, anões e prostitutas. Volta e meia, o Rui agarra-se ainda à guitarra eléctrica que tem encostada a um canto para fazer uns acordes – actividade anti-stress de que não se sai muito bem, diga-se com franqueza. O ambiente é da mais completa esquizofrenia, mas é nele que o Rui sustenta a sua criatividade. Quando finalmente se senta à frente do computador, as ideias surgem-lhe de jorro e a sua resolução prática parece fácil, quando sabemos que assim não é.
Ao nível do “design”, o estilo personalizado de Rui Garrido pode ir de um extremo ao outro sem perder identidade. Desde cultivar a sua paixão pelo psicadelismo (muito curioso, para quem não gosta de drogas e nem sequer fuma – eu que o diga, pois está sempre a mandar-me a mim e às minhas cigarrilhas para a varanda), com amontoados de elementos gráficos, a situações do mais puro minimalismo, com tudo muito branco, “clean” e arrumado, se bem que de modos pouco óbvios. Para mim, uma das características mais interessantes do trabalho do Rui é a disposição lateral dos materiais. As fotografias, por exemplo, ficam quase sempre ao lado ou para cima, chegando aos cortes de página, mas quando ocupam uma página inteira, ou mesmo duas, é tão importante, ou mais até, o fundo da imagem quanto o seu objecto. Um exemplo é a capa da jazz.pt nº 14, feita com uma foto de Bernardo Sassetti tirada por um tal de A.Mateur, que é, afinal, o próprio Garrido com pseudónimo, diz ele que para “não misturar as coisas”: o músico ocupa apenas um quarto da fotografia, além de que o vemos de perfil e com a cara virada para a direita, pelo que o nosso olhar detém-se nos pormenores do tecto e depois é absorvido pela lisura da parede como que numa busca involuntária do infinito. Julgo mesmo que esta capa representa muito bem os conceitos deste fabuloso gráfico que continua sempre a surpreender-me e que muito me honra ter conhecido. Rui, vai buscar...

Rui Eduardo Paes

Helder Moutinho – Consultor para a Programação do Festival “Um Porto de Fado”

Duas noites de fado na Praça, com Carlos do Carmo, Ana Moura, Raquel Tavares e Ricardo Parreira, foram as propostas da Casa da Música para 11 e 12 de Agosto deste ano, dando continuidade ao ciclo “Um Porto de Fado” festival proposto pela HM Música ao evento Porto2001 Capital da Cultura no Convento de são Bento da Vitória – uma iniciativa da Casa da Musica em co-programação com a HM Música.
Na noite de 11, “Um Porto de Fado” teve início com um concerto por Ricardo Parreira, acompanhado à viola pelo seu “mestre”, Fernando Alvim, de quem o jovem guitarrista se aproximou em 2005, num concerto na Casa da Música.
O primeiro álbum de Ricardo Parreira é, aliás, uma homenagem a Fernando Alvim, reunindo um repertório com temas de José Nunes, Francisco Carvalhinho (Guitarra de Lisboa), Artur Paredes e Carlos Paredes (Guitarra de Coimbra).
Na segunda parte desta noite de fado, Ana Moura apresentou o seu terceiro álbum, “Para Além da Saudade”, onde reuniu fados tradicionais, como “Fado Blanc” ou “Fado Zenha”, mas também novas composições e poemas, designadamente de Fausto, “E Viemos Nascidos do Mar”, Amélia Muge, “Fado da Procura”, e Nuno Miguel Guedes, “Mapa do Coração”.
Na noite de 12, “Um Porto de Fado” abriu com Raquel Tavares, de 22 anos, Prémio Revelação Feminina em 2006 (Fundação Amália Rodrigues). E este ano arrecada o Prémio Revelação da Casa da Imprensa (Grande Noite do Fado).
A esperada actuação de Carlos do Carmo encerrou esta segunda noite do ciclo. Carlos do Carmo apresentou uma nova abordagem a três dos mais históricos e criativos compositores do fado – Armandinho, Joaquim Campos e Marceneiro –, enriquecendo a sua música com as palavras de Maria do Rosário Pedreira, Nuno Júdice, Fernando Pinto do Amaral, José Manuel Mendes e Júlio Pomar. Foi a estreia destes autores no universo do fado, num projecto apresentado em primeira-mão na Casa da Música.
Fonte: Casa da Musica / HM Música

FESTA DO FADO

Canção de Lisboa remisturada no Castelo de São Jorge
De 8 a 30 de Junho de 2007, o Castelo de São Jorge recebeu a Festa do Fado, todas as sextas e sábados. Uma iniciativa da responsabilidade da EGEAC – Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural, inserida no programa das Festas de Lisboa 2007 em co-produção com a HM Música.
Em constante evolução, no que diz respeito ao seu processo histórico, o Fado mantém o modelo original, sem nunca perder a sua pureza, dando origem a novas formas. O Fado tradicional, associado aos novos projectos e à experimentação com outros géneros musicais, foi a base do convite lançado aos artistas que integraram a iniciativa.
O programa deste ano:
8 de Junho: Pedro Moutinho e Teresa Salgueiro
9 de Junho: SAL e Ricardo Ribeiro
15 de Junho: Maria Ana Bobone e Tetvocal
16 de Junho: Ana Maria e Maria Alice
22 de Junho: Ana Moura e Amélia Muge
23 de Junho: Raquel Tavares e Tito Paris
29 de Junho: Paulo Parreira e Ramon Mascio convidam Beatriz da Conceição
30 de Junho: António Zambujo e Luís Represas
Fonte: EGEAC / HM Música

EDITORIAL

Fundada em 1997, a HM Música começou por se dedicar ao agenciamento, apostando na divulgação e promoção da música portuguesa de raiz popular, nomeadamente o Fado, e por fim de todas as outras músicas que representam uma série de regiões, línguas e culturas, como é a denominada música do mundo.
Com o desenvolvimento da empresa, acabámos por estender as nossas actividades para outras áreas: A produção de espectáculos e, neste caso, a criação e organização de eventos e festivais. Em 1998 colaborámos no primeiro festival de músicas dos portos de Lisboa, iniciativa criada e promovida pelo INATEL no âmbito da EXPO98, com alguns espectáculos: “Tango a Preto e Branco”, “Novas Vozes de Um Fado Antigo” e “De San Telmo à Mouraria – Fado e Tango”; iniciámos o primeiro Festival de Fado em 2001, “Um Porto de Fado”, realizado no âmbito do evento “Porto 2001, Capital da Cultura”, no convento de São Bento da Vitória, em Agosto desse mesmo ano; mais tarde, em co-produção com a Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, foi a vez do “Além-Mar, Além-Fado”; co-produzimos os dois primeiros ciclos de Fados de Oeiras; iniciámos também o “Ciclo de Fados de Zamora” em Espanha; e por fim a “Festa do Fado” em Lisboa, inserida no âmbito das Festas da Cidade, desde 2004 até aos dias de hoje.
Contudo, o management, que veio a ser desenvolvido desde o início, foi um dos nossos principais objectivos e, de certa forma, foi nossa intenção criar um projecto um pouco mais arrojado do que o management tradicional, fixando-nos obviamente nos assuntos de gestão de carreira do artista, mas, acima de tudo, na promoção e comunicação de cada projecto. Digamos que, de certa forma, tentámos fazer um pouco do trabalho de “label management”, nome que as editoras multinacionais adoptaram para a função de “gestão de produto”. Para nós é importante promover os nossos artistas, de forma a podermos obter mais espectáculos que, no fim, serão a principal fonte de rendimento e de estabilidade da empresa e dos artistas.
Complementarmente, e colocando-me no lugar de um programador de uma sala de espectáculos em qualquer parte do mundo, penso que a minha função deveria ser educar musical e culturalmente a comunidade que nos rodeia, mas, de certa forma, também é importante que a população dessa comunidade esteja presente nos espectáculos que programo. Sendo assim, é nossa obrigação (gestores e agentes artísticos) colaborar, no sentido de promover e divulgar os artistas que propomos.
Com o percurso que fomos mantendo, tanto a nível nacional como internacional, com a nossa presença nas principais feiras e conferências relacionadas com este tipo de música, como é o caso da Womex, Stricly Mundial, APAP, Folk Aliance, Mercat de Musica de Vic, etc, acabámos por obter alguma experiência e “know-how” para fazer um bom trabalho com as carreiras que geríamos, tentando assim, o mais possível, criar um percurso internacional para cada um deles.
Entretanto, com o management fomos sempre participando e, de certa forma, tomando conta de todas as produções executivas dos discos dos artistas que representamos. Desde a contratação dos músicos participantes, directores e produtores musicais, engenheiros de som, estúdios, até chegarmos ao master final e, por fim, todo o trabalho de produção de capa: reunião de textos, biografias, fichas artísticas e técnicas, alinhamentos, letras dos temas, direitos de autores, licenciamentos, design gráfico, vídeos, enfim, todos os conteúdos necessários para uma boa promoção do disco e do espectáculo do artista. No fundo, era nossa intenção criar uma equipa com as editoras, que também nos ajudavam bastante no processo de evolução e desenvolvimento das carreiras que geríamos.
Dos últimos anos a esta parte, a indústria discográfica decaiu muito, tanto no mercado nacional como internacional. Os downloads ilegais e a pirataria discográfica, agravadas pelo preço dos discos e pela inflação, fizeram com que as editoras deixassem de ter capacidade para fazer a promoção necessária aos artistas e, por sua vez, fazerem uma promoção mais extensa e própria de uma evolução de carreira.
Recordo-me de ouvir alguns editores a dizer que não era muito importante se, numa primeira edição, o disco vendesse apenas duas mil unidades, pois a ideia da companhia seria criar cada carreira degrau a degrau e não trabalhar o artista como um projecto de “música descartável”. Acredito que alguns desses editores mantenham a mesma sensibilidade e objectivos mas, para poderem sobreviver nesta fase de mudança, têm de optar por uma de três possibilidades:
1. Apostar nos artistas que realmente vendem muitos discos e esperar que o artista duplique o brake even point logo no primeiro disco; caso não aconteça, rescindir o contrato com o artista – e neste caso estamos a falar de facto em projectos de “música descartável”. Neste caso, é estabelecido um valor e um tempo de promoção que não chegam a ser rentáveis para a área do agenciamento.
2. Apostar em muito menos artistas, ficando apenas com aqueles que estão a vender bem e enquanto estão a vender. Neste caso, a editora não tem capacidade para a criação de novos projectos, principalmente por razões financeiras, o que é grave para os artistas, pois todos sabemos o quanto um disco é importante, para o artista poder veicular, comunicar e promover as suas criações.
3. Passar a fazer também o management e o agenciamento, de forma a poderem criar mais fontes de rendimento e assim terem mais suporte financeiro para novos projectos e para a sua promoção. Opção esta que ainda está em fase de crescimento.
Em qualquer destas situações, as empresas de management e agenciamento (e neste caso falo por mim, que trabalho numa área de música discograficamente pouco comercial) acabaram por se deparar com um grave problema: deixaram de ter os parceiros necessários para uma boa promoção e comunicação dos seus artistas, pelo que foram obrigadas a criar um processo de promoção e comunicação para cada artista dentro das próprias empresas.
Porém, sem um disco ou material discográfico é sempre mais difícil trabalhar neste processo.
Por isso, em 2006 a HM MÚSICA passou a ter mais uma actividade: a Edição e Distribuição Discográfica.
Para além das várias razões expostas em tudo o que atrás escrevi, incluindo o processo de desenvolvimento e de aprendizagem do nosso trabalho, continuo a pensar que existem outras razões importantes para a estratégia adoptada pela HM Música: Investir mais no artista, criando um processo de comunicação mais adequado aos nossos objectivos; criar mais uma fonte de rendimento que nos permita reaver os investimentos na produção de um disco e de todos os conteúdos com ele relacionados – que por fim servirá para promover o artista em todas as áreas: Management, Agenciamento, Booking e Edição/Distribuição.
A área musical em que trabalhamos tem um público-alvo não muito vasto mas, de certa forma, fiel ao nosso trabalho e ao trabalho que os compositores, músicos e intérpretes deste género desenvolvem; que respeita o que fazemos e por isso menos dado às já tradicionais piratarias praticadas por um público menos fiel.
Mesmo assim, é importante continuar a estimular a fidelidade desse público e é por isso que devemos continuar a manter a qualidade, quer na música que fazemos e promovemos, quer em todos os conteúdos que utilizamos para a sua comercialização. O disco ou o DVD dever ser um objecto de interesse para o consumidor: para além do objecto físico da bolacha de CD onde se pode ouvir a música, há que investir na sua apresentação. Quero dizer com isto que o fotógrafo e o designer continuam a ter um papel importante na finalização de um disco.
Este processo faz-me lembrar os discos e os vídeos infantis. Vão lá oferecer uma cópia pirata a uma criança! E afinal nós também já não fomos todos crianças?
Hélder Moutinho

EDITORIAL
Founded in 1997, HM Música began as a Booking Agency, betting on the divulgation and promotion of the Portuguese music of popular root, namely Fado, and finally of all other music that represents a series of regions, languages and cultures, such as the so called World Music.
With the development of the company, we started extending our activities into other areas: shows production and, in this case, the creation and organization of events and festivals. In 1998 we collaborated in the first Music Festival of Lisbon’s ports, an initiative promoted by INATEL in the extent of EXPO98, with some shows: Tango a Preto e Branco (Tango in Black and White), Noves Vozes de um Fado Antigo (New Voices of An Old Fate [Fado]) and De San Telmo à Mouraria – Fado e Tango (From San Telmo to Mouraria – Fado and Tango); we set in the first Festival of Fado in 2001, Um Porto de Fado (A Port of Fado), in the extent of the event "Porto 2001, Capital da Cultura” (Oporto 2001, Capital of the Culture), at the convent of São Bento da Vitória, in August of that same year; later, in a co-production with the City Hall of Vila Real de Santo António, we set in Além-Mar, Além-Fado (Beyond Sea Beyond Fate [Fado]); we co-produced the first two cycles of Fados in Oeiras; we also started the "Cycle of Fados of Zamora" in Spain; and finally the Festa do Fado (Party of Fado) in Lisbon, in the extent of Festas da Cidade (the City festivities), from 2004 up to nowadays.
However, the management, developed since the beginning, was one of our main goals and, in a certain way, it was our intention to create a project a little bolder than the traditional management, obviously administrating the artist's career subjects, but, above all, focusing on the promotion and communication of each project. In a certain way, we tried to do a kind of "label management", denomination used by the multinational editors to the function of “product administration”. To us, the importance of promoting our artists results in selling more shows, the main source of income and of stability of the company and of the artists.
Complementary, and putting myself in the place of a show room programmer in any part of the world, I think my function should be to educate musically and culturally the surrounding community, but it is also important to assure the community’s presence in the shows that I program. Therefore, it is our obligation (managers and artistic agents) to collaborate, promoting and divulgating the artists we propose.
Keeping our course, so much at national as international level, and marking our presence in the main fairs and conferences related with this music genre, such as Womex, Stricly Mundial, APAP, Folk Aliance, Mercat de Musica de Vic, etc, we gained some experience and know-how to do a good work with the careers we manage, creating, as much as possible, an international path for each of them.
Meanwhile, along with the management, we also began taking care of all of the executive production of our artists' albums. From the recruiting of the musicians, directors and musical producers, sound engineers, studios, to the final master and, finally, the whole work of layer production: biographies, artistic and technical files, the line up, lyrics of the themes, authors' rights, licensing, graphic design, videos, in sum, all the necessary contents for a good promotion of the album and of the artist's show. It was our intention to create a partnership with the editors, which also helped us in the development and the evolution process of the careers that we managed.
From the last years to this part, the phonographic industry began to decline, so much in the national as in the international market. The illegal downloads and the phonographic piracy, worsened by the price of the records and the inflation, caused the editors to be unable to properly promote their artists and their careers.
I remember hearing some editors saying that it wasn’t very important if, in a first edition, an album would sell only two thousand units, because the company’s idea for each of their projects was to create a career step by step and not to work the artist as a project of "disposable music." I believe that some of those editors maintain the same sensibility and aim, but for us to survive at this time of transaction, they must choose one out of three possibilities:
1. To bet in artists who really sell many records and hope the artist soon duplicates the brake even point with the first record; otherwise cancel the contract with the artist – in this case, we are surely speaking of "disposable music" projects, where there is established a value and a time for promotion that doesn't get to be profitable for the booking promotion’s procedure.
2. To bet in a lower number of artists, keeping only the ones that are selling well and while they are selling well. In this case, the editors have no capacity to create new projects, mainly for financial reasons, which is fatal for the artists, for we all know how important a record is for the artist to carry, communicate and promote his creations.
3. To take care of management and booking as well, so that they can create more sources of income and financial support for new projects and promotion. This last option is still in a growing phase.
In any of these options, the management and booking companies (I speak for myself, since I work in an area of music phonographically less commercial) ended up running across with a serious problem: the loss of the necessary partners for a good promotion and communication of their artists, obliging them to create a promotion and communication process inside the company, to sell our own production shows, but also to turn out marketable each project or artist inside the companies themselves.
However, without phonographic material or anything that involves a record it is always harder to work in this process and, if the editors don't have the capacity to do it, we come across a serious problem. Therefore, in 2006 HM MÚSICA entered in a new area of activity: the Phonographic Edition and Distribution.
Besides the several reasons already exposed, including the process of learning and developing our work, I continue to think that other important reasons exist for this strategy adopted by HM Música: to invest more in the artist, creating a more appropriate communication process to reach our goals; to have one more source of income that allows us to recover the investments made in the production and all contents of a record – which ultimately will serve the promotion of the artist in all areas: Management, Booking and Edition/Distribution.
The musical area in which we work has a target public not very extended but, in a certain way, faithful to our work and to the work developed by the composers, musicians and interpreters of this musical genre. A public that respects what we do, therefore less attracted to the already established piracy practiced by a less faithful public.
Even so, it is important to stimulate that public fidelity and that is why we should maintain the quality, not only in the music that we do and promote, but also in all of the contents that we use for its commercialization. The record or DVD must be an object of interest for the consumer: not only the physical CD itself, but to invest in its presentation. With this I mean that the photographer and the designer continue to have an important role in the finalization of a record.
All these issues remind me of children records and videos. Try to offer a pirate copy to a child! And after all, weren’t we all children once?


Helder Moutinho

MUSICA PT NA WOMEX | MUSICA PT AT WOMEX


A exemplo de anos anteriores, a MUSICA PT estará mais uma vez representada na próxima edição da Feira de Música WOMEX (World Music Exhibition) que
decorrerá na cidade espanhola de Sevilha, entre 24 e 28 de Outubro próximo.
Este é o primeiro ano em que a MUSICA PT se apresentará como marca associada ao projecto “Associação de Promotores da Música de Portugal” (APMP) uma associação sem fins lucrativos, que congrega empresas, indivíduos e instituições, com actividade na área da música portuguesa. São objectivos centrais da APMP a divulgação e a promoção da Música Portuguesa no estrangeiro, funcionando a MUSICA PT como “chapéu de chuva” das diversas organizações associadas que desejem estar representadas em eventos internacionais, como é o caso da WOMEX.
Em Sevilha, a MUSICA PT reservou quatro stands, localizados no Pavilhão 1 da Feira, respectivamente F26 e F27 e G26 e G27. Nele estarão representadas, para além da MUSICA PT, as seguintes organizações: ALGARPALCOS, ESPANTA ESPÍRITOS, HM MÚSICA, MAGIC MUSIC, OCARINA, VACHIER & ASSICIADOS e o Festival ATLANTIC WAVES (sediado em Londres).
Paralelamente à representação física no “stand”, foram editados materiais de promoção da MUSICA PT, dos quais destacamos o cartaz central, um desdobrável bilingue e diversos formatos impressos. Foi, igualmente, inserido um anúncio na revista inglesa “SongLines”, que será distribuída gratuitamente a todos os delegados na Feira.
Com esta representação, a mais importante de sempre, a MUSICA PT dá mais um passo na solidificação de um organismo que tardava em constituir-se e que, nos últimos dois anos, soube conquistar a confiança de um número crescente de aderentes a uma causa comum: a divulgação e projecção de música portuguesa de qualidade no estrangeiro.

JÚRI PORTUGUÊS NA WOMEX

Rui Mota, actual presidente da APMP, foi o representante português escolhido para integrar o júri WOMEX deste ano, responsável pela selecção de artistas que actuarão nos “showcases” da feira.
Entre os 40 grupos e artistas individuais seleccionados, haverá um grupo português, os “Gaiteiros de Lisboa” (nova música tradicional) cuja actuação está prevista para a noite de sábado, 27 de Outubro, pelas 22h30, no Pavilhão 2 da Plaza de España (junto ao Teatro Lope de Vega).

MUSICA PT AT WOMEX

Once again MUSICA PT will be represented at the next edition of WOMEX (World Music Exhibition) that will occur in the Spanish city of Seville, between the 24th and 28th October.
This is the first year MUSICA PT will present itself as a BRAND associated to the project APMP (Association of the Portuguese Music Promoters), a non-profit association that congregates enterprises, individuals and institutions, with activity in the area of the Portuguese Music. These are central aims of the APMP, the divulgation and promotion of Portuguese Music abroad, with MUSICA PT as an “umbrella” of the various associated organizations that wish to be represented in international events, such as WOMEX.
In Seville, MUSICA PT has reserved four stands, located at the Pavilion 1 of the Exhibition, respectively F26 and F27, G26 and G27. There will be represented, besides MUSICA PT, the following organizations: ALGARPALCOS, ESPANTA ESPÍRITOS, HM MÚSICA, MAGIC MUSIC, OCARINA, VACHIER & ASSOCIADOS and the Festival ATLANTIC WAVES (based in London).
Together with this physical representation at the stand, was edited promotional stuff of MUSICA PT, of which we point out the central poster, a bilingual folder and several printed formats. There was also posted an advertisement at the English magazine SongLines, which will be freely distributed to all delegates at the Exhibition.
With this delegation, the most important up to now, MUSICA PT walks one more step towards the solidification of an organism that took long to establish itself, still conquering the trust of an increasing number of partners in a common cause: the divulgation and projection of quality Portuguese Music abroad.


PORTUGUESE JURY AT WOMEX

Rui Mota, the actual chairman of APMP, was the Portuguese representative chosen to join this year’s WOMEX Jury, responsible for the selection of the artists that will perform at the “showcases” of the Tradefair.
Between the 40 selected groups and individual artists, there will be a Portuguese group, “Gaiteiros de Lisboa” (new traditional music), whose performance is foreseen to the night of Saturday, 27th October, by 10.30 p.m.
Venue: Pavilion 2, Plaza de España (next to Theatre Lope De Vega).

FESTIVAL DE FADO DE ZAMORA

A HM Música tem vindo, desde 2001, a programar e co-produzir com a Fundação Afonso Henriques e a agência El Cohete Internacional, um Festival de Fado na cidade de Zamora. Por lá já passaram nomes como Ana Sofia Varela, Camané, Joana Amendoeira, Helder Moutinho, Pedro Moutinho, Mafalda Arnauth e Raquel Tavares. Este ano foi a vez de Gonçalo Salgueiro, António Chaínho e o projecto “Novas Vozes de Um Fado Antigo”, o qual volta a estar em cena, protagonizado, desta feita, pelos novíssimos talentos da “Canção de Lisboa” Mafalda Taborda, Tânia Oleiro e Marco André.

“FESTA DO FADO” LISBOA

A HM Música tem vindo a co-produzir com a EGEAC, desde 2004, a “Festa do Fado”, no Castelo de São Jorge, evento que integra as Festas da Cidade de Lisboa. O conceito da Festa consiste em dois tipos de programação. Um, juntar projectos de Fado tradicional a projectos de outros géneros musicais, como foram exemplo nos anos anteriores, Helder Moutinho & Maria Alice, Argentina Santos & Rão Kyao, Ana Moura & Sara Tavares, Ana Sofia Varela & La Macanita, entre outros. Outro, trazer alguns projectos que, embora tenham sofrido influências, surgiram no panorama musical português como alternativos ao Fado tradicional, como é o caso de A Naifa. Em alguns casos de encerramento destes programas, já no Auditório Keill do Amaral, foram ainda convidados alguns dos mais emblemáticos intérpretes da Canção de Lisboa, como Carlos do Carmo, Marisa e Camané.

Outros artistas na Festa do Fado em todas as edições desde 2004:

Cristina Branco & Brigada Victor Jara
Mafalda Arnauth & Corvos
Joana Amendoeira & Mafalda Veiga
Ana Moura & Amélia Muge
António Zambujo & Luis Represas
Teresa Salgueiro & Pedro Moutinho
Misia
Dulce Pontes
Ana Maria e Maria Alice
Maria Ana Bobonne & Tetvocal
Rodrigo Leão e Cristina Branco
Raquel Tavares & Tito Paris
Paulo Parreira, Ramon Maschio & Beatriz da Conceição
Jorge Fernando
Ricardo Ribeiro & Sal
Katia Guerreiro
Aldina Duarte
entre outros.

CICLO “CANÇÕES URBANAS, NOVOS TALENTOS”

O Ciclo “Canções Urbanas, Novos Talentos” foi um projecto desenvolvido pelo São Luiz Teatro Municipal, Lisboa, e a HM Música, no âmbito da programação do Jardim de Inverno. O evento pretendeu divulgar os novos projectos emergentes das canções urbanas do panorama musical português. Com o apoio da EGEAC e da revista Sexta do Diário de Notícias, a nível da divulgação, a programação esteve a cargo Helder Moutinho e Nuno Galopim. Na sua primeira edição, realizada em Maio de 2006, o ciclo contou com os espectáculos de U-Clic (Electro-Rock), OVO (Pop), Raquel Tavares (Fado) e Nancy Vieira (Cabo Verde). Na segunda edição, em Outubro deste mesmo ano, contou-se com a presença de Spartack!, Mariana Abrunheiro, Diogo, e a banda 2008.

“CABELO BRANCO É SAUDADE”

Com estreia em Junho de 2005, no Teatro Nacional de São João (Porto), este espectáculo de Ricardo Pais, que retrata uma das mais importantes gerações do Fado da actualidade, e que contou com a presença de grandes testemunhas da “Canção de Lisboa”, como Argentina Santos, Celeste Rodrigues e Alcindo de Carvalho, trouxe também algumas revelações importantes para o futuro desta género musical. Foi o caso do jovem fadista Ricardo Ribeiro e dos músicos Fernando Araújo (Baixo), Bernardo Couto (Guitarra Portuguesa) e Diogo Clemente (Viola de Fado/Direcção Musical). “Cabelo Branco é Saudade” resultou de uma co-produção entre o Teatro Nacional de São João e a produtora Lado B, e contou com a colaboração da HM Música no agenciamento dos músicos e fadistas participantes. Posteriormente, o espectáculo esteve em cena no Cine-Teatro de Alcobaça, no Teatro Viriato (Viseu), no Teatro Aveirense (Aveiro), no Teatro Virgínia (Torres Novas), no São Luiz Teatro Municipal (Lisboa), e, fora de Portugal, em Nápoles, Bordéus, Madrid e Frankfurt. Está ainda prevista uma apresentação na Cité de la Musique (Paris). “Cabelo Branco é Saudade” foi editado em DVD em Novembro de 2005.

I GALA DOS PRÉMIOS AMÁLIA RODRIGUES

Teve lugar no São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, a I Gala dos Prémios Amália Rodrigues, onde foram anunciados os prémios atribuídos pela Fundação homónima. Nesta gala, estiveram presentes alguns dos artistas premiados, bem como alguns convidados reunidos num espectáculo onde o Fado foi protagonista. Os artistas representados pela HM Música que receberam prémios foram Helder Moutinho (Melhor Disco 2004) e Argentina Santos (Prémio de Carreira). Toda a produção do evento foi da responsabilidade da HM Música.

CICLO “UM PORTO DE FADO”, NA CASA DA MÚSICA

Com início em Agosto de 2005, a HM Música desenvolveu, a segunda edição do ciclo “Um Porto de Fado”, na Casa da Música (Porto).

Ricardo Parreira
O concerto de abertura do ciclo teve lugar no Grande Auditório da Casa da Música com um espectáculo do jovem instrumentista de guitarra portuguesa, Ricardo Parreira, na primeira parte, e com o fadista Camané, na segunda.

Joana Amendoeira
Joana Amendoeira apresentou a 16 de Setembro 2005, no âmbito do mesmo ciclo, o espectáculo estreado no São Luiz Teatro Municipal, Lisboa, espectáculo esse que veio a originar o disco “Ao Vivo em Lisboa”.

Pedro Moutinho & Danças Ocultas
O Pequeno Auditório da Casa da Música acolheu a 17 de Março de 2006, este projecto, estreado na “Festa do Fado” (Lisboa), em que Pedro Moutinho convidou o fantástico grupo Danças Ocultas para uma nova experiência, onde o tradicional trio de fado se juntou às não menos portuguesas concertinas. Mais tarde, no Festival “Sons em Transito” (Aveiro) foi a vez de o Danças Ocultas convidar o fadista.

António Chaínho
Manuel de Oliveira, Fernando Alvim, Beatriz da Conceição, Isabel Noronha e Celina Piedade, juntaram-se em 31 Outubro de 2005 para, num só espectáculo, homenagear António Chaínho, um dos mais emblemáticos instrumentistas da Guitarra Portuguesa.

Carlos do Carmo & Orquestra Sinfonietta de LisboaO ciclo fechou, em Janeiro de 2006, com o concerto de Carlos do Carmo e a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, concerto esse que já tinha encerrado a “Festa do Fado 2005” no Anfiteatro Keill do Amaral, no Parque do Monsanto, em Lisboa.