quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

RAQUEL TAVARES À CONQUISTA DA BENELUX


O Fado é frequentemente definido como a “missa solene” da melancolia: nostalgia, tristeza, solidão e desgosto de amor parecem atrair multidões aos teatros. O fadista, homem ou mulher, geralmente vestido de preto, semblante marcado pela dor, olhos fechados ou mãos dobradas entre o xaile, interpreta canções com imprescindível saudade – este desejo indescritível por tempos idos que nunca voltarão.
Desde a ressurreição do estilo no final do século passado, os aficionados do fado podem assistir regularmente a concertos que, grosso modo, podem ser classificados em teatrais, inovadores ou clássicos. Raramente aparece um fadista em palco capaz de unir todas essas facetas. E já há muito tempo não via uma apresentação com a respiração contida.
A fadista em questão é Raquel Tavares: 23 anos, lisboeta e que canta, segundo suas próprias palavras, desde os 5 anos. Raquel percorreu o percurso clássico: cantando em casa, no centro comunitário e na taberna da esquina, onde foi descoberta. A partir dos 17 anos é convidada a cantar no Senhor Vinho, Luso e Bacalhau de Molho, prestigiadas casas de fado onde cantam muitos dos mais destacados artistas do Fado Lisboeta.
No domingo, 17 de Fevereiro, Raquel Tavares apresentou-se no Vredenburg Leeuwenbergh para uma sala esgotada. Tive o prazer de estar presente durante o soundcheck. No ensaio vi uma rapariga alegre e saltitante, com uma camisola rosa de gola alta. Se ela podia cantar o fado segundo as regras que esta arte exige, era uma incógnita. Até ressurgir em palco e se apresentar como fadista. Vestido negro, cingido com um laço vermelho e arranjo floral no cabelo. Nada a ver com aquela rapariga alegre do soundcheck. No palco estava a cantar uma pessoa vivida, que sabe exprimir raiva, alegria, tristeza, enfim toda a sua alma e beatitude em sua arte. Senti um arrepio na espinha enquanto a sala inteira suspirava.
Esta foi talvez a abordagem mais próxima do verdadeiro espírito do fado em palco que alguém poderia presenciar fora de Portugal. Raquel Tavares não cantou o fado, ela era o fado.
A surpresa, no entanto, veio a seguir, na segunda parte do concerto, quando os músicos que a acompanhavam deixaram o palco e ela própria se acompanhou com a guitarra portuguesa. A interpretação foi um pouco convincente, diferentemente dos aplausos que se seguiram.
Os grandes nomes da nova geração de fadistas têm aqui uma formidável concorrente. Se Raquel Tavares continuar a se desenvolver assim, alcançará Mariza e Cristina Branco.


By Philip Nijman in De volkskrant NL
Tradução: Alzira Arouca
Photo: João Pina

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