sexta-feira, 7 de março de 2008

RICARDO PARREIRA NA HOLANDA


Ricardo Parreira actuou no passado dia 07 de Março no Vredenburg em Utrecht. A seu lado esteve João Bengala (Guitarra Clássica) para um concerto numa das mais emblemáticas salas de espectáculos da Holanda. Este foi o primeiro concerto dado pelo jovem guitarrista em terras da Benelux, depois do lançamento do seu primeiro album "nas veias de uma guitarra" um tributo ao guitarrista Fernando Alvim.


Ricardo Parreira (21 anos de idade/Guitarra Portuguesa) iniciou os estudos de Guitarra Portuguesa aos 7 anos de idade pela mão de seu pai, António Parreira, um dos guitarristas mais conceituados no panorama musical do Fado. Aos 13 anos acompanhou pela primeira vez a fadista Argentina Santos e logo de seguida foi convidado a participar no Festival “Um Porto de Fado”, realizado no âmbito do evento “Porto 2001, Capital da Cultura”. Durante todos estes anos a sua formação musical, desde muito novo até passar pelo Conservatório Nacional, foi em redor dos grandes compositores de guitarra portuguesa, desde Carlos e Artur Paredes, num conceito mais virado para a guitarra de Coimbra, até aos lisboetas: Armandinho, José Nunes, Francisco Carvalhinho e Jaime Santos. Isto para além de tocar com alguns dos Fadistas mais importantes do panorama actual: Camané, Mísia, Mafalda Arnauth, Argentina Santos, entre outros.
Foi em 2005 que a história a dois se iniciou. Para dia 12 de Agosto estava marcado para a Casa da Música, no Porto, um espectáculo de fado de Camané. Para a primeira parte, surgiu a ideia de se organizar uma sessão de guitarradas. Com 18 anos, Ricardo Parreira subiu ao palco, de guitarra na mão, para tocar ao lado do viola dos violas portugueses, o mestre Fernando Alvim, o único a conseguir, durante uma vida, acompanhar, valorizando, o génio de Carlos Paredes. A noite foi memorável. Depois da prova de fogo com Alvim, Ricardo ainda acabou por tocar para Camané. Mas foi o começo de uma relação sólida, que neste disco se revela plena, que marcou o jovem guitarrista.

Fernando Alvim não demorou a convidá-lo para ensaiar em sua casa. A admiração entre os dois foi crescendo, ao ponto do guitarrista sentir necessidade de homenagear o mestre com um tributo. O desafio era que o seu primeiro disco surgisse como um tributo a Fernando Alvim e que neste caso o repertório escolhido seria uma série de temas dos compositores com quem o violista tinha tocado para além de outros da sua eleição. Desafio aceite, o repertório escolheu-o Ricardo: José Nunes, Francisco Carvalhinho (Guitarra de Lisboa), Artur Paredes e, claro, Carlos Paredes (Guitarra de Coimbra), o compositor de guitarra portuguesa preferido de Ricardo e o senhor que Fernando Alvim ajudou a brilhar durante 25 anos. A estes temas incontornáveis da história da guitarra portuguesa foram acrescentadas uma composição de Armandinho, guitarrista compositor com quem Alvim nunca tinha tocado, embora tenha por ele uma grande admiração, e um tema da autoria do próprio Fernando Alvim, neste caso (duas violas) interpretado pelo mestre e sua esposa Rosário Alvim “Encantamento”, o último da lista. Nascia um desafio completamente original no mundo do fado, só concretizado porque o mestre de 72 anos reconhecia qualidade suficiente no “miúdo” de 20.
“Sujeitei-me a ir estudar as coisas de que já não me lembrava”, conta Fernando Alvim com a humildade que caracteriza a sua sabedoria. Os ensaios para este tributo duraram dois meses. Entre Setembro e Outubro de 2006, todas as quartas-feiras, Ricardo saía de Carnaxide para se sentar calmamente no quarto de Fernando Alvim, na velha casa de famí­lia às portas da Rua do Século. Tardes longas, onde cada erro que Ricardo cometia era gentilmente corrigido por Alvim, num encontro de gerações que foi enriquecendo os dois músicos, entre discussões sobre ritmos e interpretações.
“Este é um disco nitidamente ricardiano”, diz Fernando Alvim. “Eu, como acompanhador, fui atrás do solista, sempre foi essa a minha missão”, continua, os olhos a brilhar pela surpresa agradável que Ricardo lhe proporcionou: “Nunca pensei voltar a tocar Carlos Paredes nem estes outros compositores sem ser com ele”. Nesses olhos que continuam a brilhar, Fernando parece regressar aos seus 26 anos e reviver os seus primeiros encontros com Paredes. “Nunca me hei-de esquecer do choque inicial que foi ouvi-lo tocar guitarra e ter de o acompanhar. Parecia que não ia conseguir fazer nada. Ele tocava com uma pujança muito grande e eu tinha que ir atrás. Mas quando compreendi a sua maneira de tocar e interiorizei o seu estilo, a dupla seguiu em frente por esse mundo fora”.

Ricardo tem consciência da grandiosidade dessa dupla que fez história. Sabe de cor que é impossível tocar da mesma forma que Paredes. “Não há força que lá chegue, nem vigor capaz de o imitar”. É a composição e a construção das peças de Carlos Paredes que respeita na íntegra, mas às quais dá uma interpretação só sua. E não tem dúvidas de que o pode fazer. “Se o Fernando Alvim diz que posso tocar Paredes, é porque posso mesmo”. E quem diz Paredes diz o mí­tico Armandinho, o carismático José Nunes, ou o saudoso Francisco Carvalhinho…
O resultado, gravado em quatro dias, cheira a liberdade, tem o sabor da alegria e a frescura da genialidade que faz tremer os sentidos. É uma espécie de néctar mais suave do que o mel e mais forte que o dos deuses. Perdura na eternidade como todas as músicas que têm o dom da intemporalidade.
Fonte: HM Música

2 comentários:

HM Música disse...

Este foi o primeiro na Benelux, como o do Atlantic Wavez foi o primeiro no Reino Unido.
Outros virão sem duvida já que estamos a falar de um talento inevitável.

HM Música disse...

Este foi o primeiro na Benelux, como o do Atlantic Wavez foi o primeiro no Reino Unido.
Outros virão sem duvida já que estamos a falar de um talento inevitável.