sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

EDITORIAL

Fundada em 1997, a HM Música começou por se dedicar ao agenciamento, apostando na divulgação e promoção da música portuguesa de raiz popular, nomeadamente o Fado, e por fim de todas as outras músicas que representam uma série de regiões, línguas e culturas, como é a denominada música do mundo.
Com o desenvolvimento da empresa, acabámos por estender as nossas actividades para outras áreas: A produção de espectáculos e, neste caso, a criação e organização de eventos e festivais. Em 1998 colaborámos no primeiro festival de músicas dos portos de Lisboa, iniciativa criada e promovida pelo INATEL no âmbito da EXPO98, com alguns espectáculos: “Tango a Preto e Branco”, “Novas Vozes de Um Fado Antigo” e “De San Telmo à Mouraria – Fado e Tango”; iniciámos o primeiro Festival de Fado em 2001, “Um Porto de Fado”, realizado no âmbito do evento “Porto 2001, Capital da Cultura”, no convento de São Bento da Vitória, em Agosto desse mesmo ano; mais tarde, em co-produção com a Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, foi a vez do “Além-Mar, Além-Fado”; co-produzimos os dois primeiros ciclos de Fados de Oeiras; iniciámos também o “Ciclo de Fados de Zamora” em Espanha; e por fim a “Festa do Fado” em Lisboa, inserida no âmbito das Festas da Cidade, desde 2004 até aos dias de hoje.
Contudo, o management, que veio a ser desenvolvido desde o início, foi um dos nossos principais objectivos e, de certa forma, foi nossa intenção criar um projecto um pouco mais arrojado do que o management tradicional, fixando-nos obviamente nos assuntos de gestão de carreira do artista, mas, acima de tudo, na promoção e comunicação de cada projecto. Digamos que, de certa forma, tentámos fazer um pouco do trabalho de “label management”, nome que as editoras multinacionais adoptaram para a função de “gestão de produto”. Para nós é importante promover os nossos artistas, de forma a podermos obter mais espectáculos que, no fim, serão a principal fonte de rendimento e de estabilidade da empresa e dos artistas.
Complementarmente, e colocando-me no lugar de um programador de uma sala de espectáculos em qualquer parte do mundo, penso que a minha função deveria ser educar musical e culturalmente a comunidade que nos rodeia, mas, de certa forma, também é importante que a população dessa comunidade esteja presente nos espectáculos que programo. Sendo assim, é nossa obrigação (gestores e agentes artísticos) colaborar, no sentido de promover e divulgar os artistas que propomos.
Com o percurso que fomos mantendo, tanto a nível nacional como internacional, com a nossa presença nas principais feiras e conferências relacionadas com este tipo de música, como é o caso da Womex, Stricly Mundial, APAP, Folk Aliance, Mercat de Musica de Vic, etc, acabámos por obter alguma experiência e “know-how” para fazer um bom trabalho com as carreiras que geríamos, tentando assim, o mais possível, criar um percurso internacional para cada um deles.
Entretanto, com o management fomos sempre participando e, de certa forma, tomando conta de todas as produções executivas dos discos dos artistas que representamos. Desde a contratação dos músicos participantes, directores e produtores musicais, engenheiros de som, estúdios, até chegarmos ao master final e, por fim, todo o trabalho de produção de capa: reunião de textos, biografias, fichas artísticas e técnicas, alinhamentos, letras dos temas, direitos de autores, licenciamentos, design gráfico, vídeos, enfim, todos os conteúdos necessários para uma boa promoção do disco e do espectáculo do artista. No fundo, era nossa intenção criar uma equipa com as editoras, que também nos ajudavam bastante no processo de evolução e desenvolvimento das carreiras que geríamos.
Dos últimos anos a esta parte, a indústria discográfica decaiu muito, tanto no mercado nacional como internacional. Os downloads ilegais e a pirataria discográfica, agravadas pelo preço dos discos e pela inflação, fizeram com que as editoras deixassem de ter capacidade para fazer a promoção necessária aos artistas e, por sua vez, fazerem uma promoção mais extensa e própria de uma evolução de carreira.
Recordo-me de ouvir alguns editores a dizer que não era muito importante se, numa primeira edição, o disco vendesse apenas duas mil unidades, pois a ideia da companhia seria criar cada carreira degrau a degrau e não trabalhar o artista como um projecto de “música descartável”. Acredito que alguns desses editores mantenham a mesma sensibilidade e objectivos mas, para poderem sobreviver nesta fase de mudança, têm de optar por uma de três possibilidades:
1. Apostar nos artistas que realmente vendem muitos discos e esperar que o artista duplique o brake even point logo no primeiro disco; caso não aconteça, rescindir o contrato com o artista – e neste caso estamos a falar de facto em projectos de “música descartável”. Neste caso, é estabelecido um valor e um tempo de promoção que não chegam a ser rentáveis para a área do agenciamento.
2. Apostar em muito menos artistas, ficando apenas com aqueles que estão a vender bem e enquanto estão a vender. Neste caso, a editora não tem capacidade para a criação de novos projectos, principalmente por razões financeiras, o que é grave para os artistas, pois todos sabemos o quanto um disco é importante, para o artista poder veicular, comunicar e promover as suas criações.
3. Passar a fazer também o management e o agenciamento, de forma a poderem criar mais fontes de rendimento e assim terem mais suporte financeiro para novos projectos e para a sua promoção. Opção esta que ainda está em fase de crescimento.
Em qualquer destas situações, as empresas de management e agenciamento (e neste caso falo por mim, que trabalho numa área de música discograficamente pouco comercial) acabaram por se deparar com um grave problema: deixaram de ter os parceiros necessários para uma boa promoção e comunicação dos seus artistas, pelo que foram obrigadas a criar um processo de promoção e comunicação para cada artista dentro das próprias empresas.
Porém, sem um disco ou material discográfico é sempre mais difícil trabalhar neste processo.
Por isso, em 2006 a HM MÚSICA passou a ter mais uma actividade: a Edição e Distribuição Discográfica.
Para além das várias razões expostas em tudo o que atrás escrevi, incluindo o processo de desenvolvimento e de aprendizagem do nosso trabalho, continuo a pensar que existem outras razões importantes para a estratégia adoptada pela HM Música: Investir mais no artista, criando um processo de comunicação mais adequado aos nossos objectivos; criar mais uma fonte de rendimento que nos permita reaver os investimentos na produção de um disco e de todos os conteúdos com ele relacionados – que por fim servirá para promover o artista em todas as áreas: Management, Agenciamento, Booking e Edição/Distribuição.
A área musical em que trabalhamos tem um público-alvo não muito vasto mas, de certa forma, fiel ao nosso trabalho e ao trabalho que os compositores, músicos e intérpretes deste género desenvolvem; que respeita o que fazemos e por isso menos dado às já tradicionais piratarias praticadas por um público menos fiel.
Mesmo assim, é importante continuar a estimular a fidelidade desse público e é por isso que devemos continuar a manter a qualidade, quer na música que fazemos e promovemos, quer em todos os conteúdos que utilizamos para a sua comercialização. O disco ou o DVD dever ser um objecto de interesse para o consumidor: para além do objecto físico da bolacha de CD onde se pode ouvir a música, há que investir na sua apresentação. Quero dizer com isto que o fotógrafo e o designer continuam a ter um papel importante na finalização de um disco.
Este processo faz-me lembrar os discos e os vídeos infantis. Vão lá oferecer uma cópia pirata a uma criança! E afinal nós também já não fomos todos crianças?
Hélder Moutinho

EDITORIAL
Founded in 1997, HM Música began as a Booking Agency, betting on the divulgation and promotion of the Portuguese music of popular root, namely Fado, and finally of all other music that represents a series of regions, languages and cultures, such as the so called World Music.
With the development of the company, we started extending our activities into other areas: shows production and, in this case, the creation and organization of events and festivals. In 1998 we collaborated in the first Music Festival of Lisbon’s ports, an initiative promoted by INATEL in the extent of EXPO98, with some shows: Tango a Preto e Branco (Tango in Black and White), Noves Vozes de um Fado Antigo (New Voices of An Old Fate [Fado]) and De San Telmo à Mouraria – Fado e Tango (From San Telmo to Mouraria – Fado and Tango); we set in the first Festival of Fado in 2001, Um Porto de Fado (A Port of Fado), in the extent of the event "Porto 2001, Capital da Cultura” (Oporto 2001, Capital of the Culture), at the convent of São Bento da Vitória, in August of that same year; later, in a co-production with the City Hall of Vila Real de Santo António, we set in Além-Mar, Além-Fado (Beyond Sea Beyond Fate [Fado]); we co-produced the first two cycles of Fados in Oeiras; we also started the "Cycle of Fados of Zamora" in Spain; and finally the Festa do Fado (Party of Fado) in Lisbon, in the extent of Festas da Cidade (the City festivities), from 2004 up to nowadays.
However, the management, developed since the beginning, was one of our main goals and, in a certain way, it was our intention to create a project a little bolder than the traditional management, obviously administrating the artist's career subjects, but, above all, focusing on the promotion and communication of each project. In a certain way, we tried to do a kind of "label management", denomination used by the multinational editors to the function of “product administration”. To us, the importance of promoting our artists results in selling more shows, the main source of income and of stability of the company and of the artists.
Complementary, and putting myself in the place of a show room programmer in any part of the world, I think my function should be to educate musically and culturally the surrounding community, but it is also important to assure the community’s presence in the shows that I program. Therefore, it is our obligation (managers and artistic agents) to collaborate, promoting and divulgating the artists we propose.
Keeping our course, so much at national as international level, and marking our presence in the main fairs and conferences related with this music genre, such as Womex, Stricly Mundial, APAP, Folk Aliance, Mercat de Musica de Vic, etc, we gained some experience and know-how to do a good work with the careers we manage, creating, as much as possible, an international path for each of them.
Meanwhile, along with the management, we also began taking care of all of the executive production of our artists' albums. From the recruiting of the musicians, directors and musical producers, sound engineers, studios, to the final master and, finally, the whole work of layer production: biographies, artistic and technical files, the line up, lyrics of the themes, authors' rights, licensing, graphic design, videos, in sum, all the necessary contents for a good promotion of the album and of the artist's show. It was our intention to create a partnership with the editors, which also helped us in the development and the evolution process of the careers that we managed.
From the last years to this part, the phonographic industry began to decline, so much in the national as in the international market. The illegal downloads and the phonographic piracy, worsened by the price of the records and the inflation, caused the editors to be unable to properly promote their artists and their careers.
I remember hearing some editors saying that it wasn’t very important if, in a first edition, an album would sell only two thousand units, because the company’s idea for each of their projects was to create a career step by step and not to work the artist as a project of "disposable music." I believe that some of those editors maintain the same sensibility and aim, but for us to survive at this time of transaction, they must choose one out of three possibilities:
1. To bet in artists who really sell many records and hope the artist soon duplicates the brake even point with the first record; otherwise cancel the contract with the artist – in this case, we are surely speaking of "disposable music" projects, where there is established a value and a time for promotion that doesn't get to be profitable for the booking promotion’s procedure.
2. To bet in a lower number of artists, keeping only the ones that are selling well and while they are selling well. In this case, the editors have no capacity to create new projects, mainly for financial reasons, which is fatal for the artists, for we all know how important a record is for the artist to carry, communicate and promote his creations.
3. To take care of management and booking as well, so that they can create more sources of income and financial support for new projects and promotion. This last option is still in a growing phase.
In any of these options, the management and booking companies (I speak for myself, since I work in an area of music phonographically less commercial) ended up running across with a serious problem: the loss of the necessary partners for a good promotion and communication of their artists, obliging them to create a promotion and communication process inside the company, to sell our own production shows, but also to turn out marketable each project or artist inside the companies themselves.
However, without phonographic material or anything that involves a record it is always harder to work in this process and, if the editors don't have the capacity to do it, we come across a serious problem. Therefore, in 2006 HM MÚSICA entered in a new area of activity: the Phonographic Edition and Distribution.
Besides the several reasons already exposed, including the process of learning and developing our work, I continue to think that other important reasons exist for this strategy adopted by HM Música: to invest more in the artist, creating a more appropriate communication process to reach our goals; to have one more source of income that allows us to recover the investments made in the production and all contents of a record – which ultimately will serve the promotion of the artist in all areas: Management, Booking and Edition/Distribution.
The musical area in which we work has a target public not very extended but, in a certain way, faithful to our work and to the work developed by the composers, musicians and interpreters of this musical genre. A public that respects what we do, therefore less attracted to the already established piracy practiced by a less faithful public.
Even so, it is important to stimulate that public fidelity and that is why we should maintain the quality, not only in the music that we do and promote, but also in all of the contents that we use for its commercialization. The record or DVD must be an object of interest for the consumer: not only the physical CD itself, but to invest in its presentation. With this I mean that the photographer and the designer continue to have an important role in the finalization of a record.
All these issues remind me of children records and videos. Try to offer a pirate copy to a child! And after all, weren’t we all children once?


Helder Moutinho

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