domingo, 23 de março de 2008

ARGENTINA SANTOS "UM FADO DE TODOS OS TEMPOS"


MARIA ARGENTINA PINTO dos SANTOS, que desde 1950 se mantém à frente do seu restaurante típico “Parreirinha de Alfama”, nasceu em Lisboa, na Mouraria.
Ao contrário de outras conhecidas cantadeiras que, muito jovens, já interpretavam o fado em público, Argentina Santos só iniciou a sua carreira artística depois da abertura daquele restaurante, para o qual foi trabalhar, como cozinheira, com apenas 24 anos. Quando deixava de cozinhar, Argentina Santos circulava pelas mesas, sempre assediada para cantar um fado. A sua resposta tornou-se uma lenda “Eu devo é cozinhar para os meus clientes”.
Na “Parreirinha de Alfama”, Argentina Santos cantou com fadistas que marcaram a história do Fado em Portugal: Berta Cardoso, Lucília do Carmo, Alfredo Marceneiro, Celeste Rodrigues, Mariana Silva, Natércia da Conceição, Natália Bizarro, Helena Tavares, Maria da Fé, Leonor Santos, Beatriz da Conceição, Fernanda Maria – que iniciou a sua carreira na “Parreirinha de Alfama” –, Flora Pereira, Júlio Peres, entre muitos outros.
Graças à autenticidade das suas interpretações e a um estilo muito pessoal, logo se impôs como uma das mais dotadas e prometedoras fadistas da época, tornando-se desde então, para os conhecedores e melómanos do fado, uma intérprete fidedigna da cantiga, na linha das cantadeiras do passado. Os fados “As Duas Santas” e “Juras” foram, entre outros, grandes êxitos desta artista que gravou o seu primeiro disco em 1960.

A não gravação de discos e a recusa de espectáculos, levaram-na à interrupção de uma carreira mais do que prometedora. Muito se especulou sobre esta atitude. Sobre esse período da sua vida, explica a cantadeira: «Nessa altura tinha um companheiro que não gostava nada de me ver cantar em público. Dois anos depois da sua morte casei-me de novo e voltei a ter o mesmo problema. Agora que sou livre, aproveito os convites que me são endereçados. Nada como antes, que os tinha de recusar. Sou muito bem recebida no estrangeiro e isso dá-me imenso prazer, pois o que eu gosto é de cantar. Cantar, como diz a Maria da Fé, ‘até que a voz me doa’».
Tendo-se embora confinado às suas actuações na “Parreirinha de Alfama” e a uma ou outra intervenção em festas públicas e particulares, Argentina Santos não deixou, por isso, de se tornar conhecida e apreciada como cantadeira castiça, porventura uma das mais representativas da escola tradicional do fado.
Actualmente é a mais requisitada fadista portuguesa, dignificando e divulgando ao mundo o fado, a nossa canção por excelência, de forma sublime e inequívoca, sendo, muito justamente, aclamada como a última das grandes fadistas da tradição antiga da Canção de Lisboa.
Venezuela, Curaçao, Brasil, França (96, 97, 98, 99), Konzerthaus em Viena - Áustria, Queen Elisabeth Hall em Londres - Inglaterra, La Cité de La Musique em Paris - França, Catedral de Marselha - França, Dufe Paris - Grécia, Holanda, Escócia, a tournée italiana por Perugia, Modena e Torino, são alguns dos concertos internacionais desta genuína e brilhante fadista. Em Portugal actuou no Coliseu, Teatro da Trindade, Teatro Eunice Muñoz, Teatro Roma (com Simone de Oliveira), reabertura do Teatro Tivoli e no Centro Cultural de Belém.
Em 2004, foi homenageada com um concerto de carreira, no decorrer da Festa do Fado, evento realizado em Lisboa e em 2006 íntegra o elenco do espectáculo de Ricardo Pais “Cabelo Branco é Saudade”.
Argentina Santos é o Fado na sua expressão mais genuína e fascinante. Argentina Santos é a voz do Fado e de Portugal.

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